Emmanuel Mounier (1905-1950) e sua filha Anne

Espaço para difusão da filosofia personalista de Emmanuel Mounier e para ponderações de vários temas importantes, tendo como referência essa perspectiva filosófica.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Se situando através da vocação e do engajamento.

Olhe ao seu redor, a sua frente, a seu lado, observe o dia de hoje com o seu devir, sabendo que no exato momento, nada do que foi, em sua integralidade é; algo se foi, algo se acrescentou em suma, nada está inerte, tudo se transforma. Veja o seu ambiente, olhe as pessoas que o cerca, fazendo ou não fazendo parte de sua vida.
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Cada uma das pessoas está envolvida com alguma coisa, cada qual com os seus afazeres, com seus compromissos, suas dúvidas; umas buscam inquietamente acalentar suas indagações buscando respostas das mais variadas formas e nos mais variados lugares, outras se acomodam, como que cochilando no carro que atolou na lama ou dormindo com o estômago vazio, sem buscar a satisfação de suas necessidades. Mas cada um está, pelo devir sendo envolvidas, algumas se situando em meio a intensa movimentação da vida, outras cada vez mais perdidas, outras cada vez mais nulas. Ninguém está absolutamente inerte!
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Os perdidos são os que se movimentam dominados por seu desespero existencial, e nele, pela intensa carga de angústia causada pela condição de perdido, se perdem ainda mais, no cinismo e no niilismo da impropriedade existencial, do não existe saída, nada tem sentido, ou, tudo é um absurdo. Eles, mesmos perdidos continuam a caminhar a esmo, indo de um lado a outro e exclamando, na loucura do desespero, suas afirmações pessimistas e desestimulantes. Muitas vezes, mesmo na condição de impropriedade, se envolve em causas para sentir algum alento na zona estranha existencial onde se encontram.

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Os nulos, ah, esses são os que vegetam, são levados pela sua inércia intelectual, ou pela falta da noção da intrínseca dignidade pessoal, são levados de um lado para o outro, inteiramente a disposição do tempo e do espaço e da tirania do sistema impessoal que os governa.

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No processo do devir, águas do rio de Heráclito não são apenas fluência elas fluem sim, mas no processo de sua passagem, integrada com a totalidade da natureza em que está inserida, ela transforma. Não só o rio não é mais o mesmo, mas todo o contexto não é mais o mesmo. Essas águas são processadas, mas também processam, elas fluem, mas também provocam fluência. Observe as margens do rio, veja bem, ela não é mais a mesma, as águas passageiras o transformaram. Consequentemente, ele transformará a paisagem ao seu redor, com cada terra deslizada, árvore derrubada, porção de capim que se desenramam.

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A semelhança desse rio, que flui, mas que transforma o seu caminho, existem pessoas, que conhecendo sua vocação existencial, estão engajadas na tarefa de transformar. Essas pessoas não são como lamas existenciais, apodrecidas devido à falta de movimentação, pelo contrário, pela clareza de sua vocação, passam e aplainam o caminho dos que aqui se encontram e dos estão por vir. Não estão perdidas, estão situadas em seus engajamentos, sabem que estão de passagem tendo uma tarefa a cumprir, e, por tal coisa não se desesperam, porque para cumprir seu compromisso tem como ferramenta sua vocação.

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Para entender o processo existencial, precisamos primeiramente, vivenciar os conselhos do Oráculo de Delfos reproduzidos por Sócrates: “Conheça-te a ti mesmo”.
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Precisamos, conhecer nossa vocação, para com ela nos engajarmos sem correr o risco de nos perdermos na angústia existencialista de não saber o que fazer diante das complexidades e dos desafios que a vida nos impõem. Creio que o grande problema dos pensadores existencialistas foi o fato de não levar efetivamente em conta suas vocações. A vocação que temos, já é o início de sentido existencial. Se eu existo, existo para alguém, ou existo para algo. Se não descubro ontologicamente a lógica de minha existência, sei pelo menos que minha existência faz sentido para outros, portanto nos outros eu posso me encontrar e encontrar sentido, ou nos outros, minha existência encontra algum sentido. Para os outros eu exerço minha vocação, esse meu engajamento, faz com que minha vida para os outros e nos outros, não seja nula.
Devo buscar a resposta para a pergunta ontológica, onde reside essa alguma coisa para a qual eu existo ou para quem eu existo? Sim, mas também devemos levar em consideração, que se engajando através do uso de nossas vocações, esse engajamento trará, através das pessoas beneficiadas com o nosso despojamento, uma certa noção de fundamento espacial-temporal, uma lógica existencial.
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Os existencialistas, não observando a lógica que a vocação transmite para a existência, não encontraram sentido para a sua existência pessoal, mas se fizessem o contrário, ou seja, observassem o seu papel na existência encarnada, e o serviço que prestaram para seus semelhantes, encontrariam, nas pessoas, na interação, no serviço, enfim, no engajamento vocacional a lógica existencial e o sentido de suas vidas.
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Lailson Castanha
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