Emmanuel Mounier (1905-1950) e sua filha Anne

Espaço para difusão da filosofia personalista de Emmanuel Mounier e para ponderações de vários temas importantes, tendo como referência essa perspectiva filosófica.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Ostentando o não-ser-pessoal.

O mundo ocidental capitalista, e as nações orientais regidas pelo mesmo modelo, vivem a efervescência da cultura da ostentação materialista. Esta ostentação vivenciada por pessoas orgulhosas, integrantes de uma sociedade capitalista massificada, tem a estranha atitude de apresentar de forma ostensiva o não-ser-pessoal, como se fosse parte real de seu ser-pessoal. Por exemplo, podemos ver entre os transeuntes de qualquer grande metrópole ostentando um caro óculos solar, como se fosse um atributo intrínseco de sua beleza pessoal.
Podemos também avistar um garoto de classe média ostentando um pit bull, como se a braveza daquele cão, fosse uma extensão da sua força.
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No ufanismo nacional, percebemos que um nacionalista ostenta a glória de sua pátria natal, como se esta, efetivamente ilustrasse a glória dos cidadãos da tal pátria. Em grandes eventos esportivos vemos a evidência desta realidade, no orgulho da torcida que vibra e ironiza cidadãos de outras pátrias, como se a glória de uma conquista esportiva nas quatro linhas de um gramado, ou de uma quadra, se estendesse para cada cidadão que torce com paixão pelo time que representa sua pátria. Representar, inclusive é uma tendência muito forte de nosso atual momento histórico.
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Muitas vezes eu fico a me perguntar. Será que quem usa ostensivamente um belo óculos solar, não percebe que a beleza deste não se estende a si, e que, racionalmente pensando, a beleza do óculos solar efetivamente só pode engrandecer os atributos do designer que o criou? Será que não percebe que saindo as ruas a ostentar a possível beleza que este acessório produz na ornamentação da sua face, na verdade, com isso, está negando os atributos físicos e pessoais de seu olhar natural, em outras palavras, será que não percebe que está apenas apresentando a ornamentação, ao invés de se apresentando, e que, apresentando uma beleza fora de si ela está negando-se a si mesma?
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Será que não percebe que uma máscara não apresenta a sua real imagem e, por ser assim, jamais deveria se orgulhar de forma ostensiva?
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As mesmas ponderações poderiam ser dadas a demais exemplos, pois, o “não eu”, não é o “eu”, por isso não ostentá-lo não seria uma atitude adequada.
Um homem que está com uma garota, sendo que esta foi atraída pelos seus bens capitais, não pode jamais se alegrar com a conquista desta, quando, ao invés de ser atraída pelo ser-pessoal que acompanha, foi atraída pelo não-ser-pessoal, ou seja, pela matéria de posse do ser pessoal que ela se aproximou.
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É lógico que não podemos ser contra a ornamentação e os bens, o que estou a destacar é o uso impróprio da materialidade colocada em maior estima de que a nossa pessoalidade e naturalidade, não a simples satisfação de possuir um belo produto.
A ostentação material quando substitui a valorização do ser natural, rebaixa a pessoa a condição de coisa artificial, onde o seu valor reside no que ostenta, no que tem ou se apropriou e não no que realmente “é”.
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O personalismo como corrente de pensamento, em qualquer instância e em qualquer lugar deve ter a natural responsabilidade de ressaltar e defender a primazia da essência sobre a opção da aparência, a primazia da pessoa sobre os valores e sobre qualquer status.
A ressalva personalista é importantíssima, porque, trocando as prioridades do ser – os valores também serão afetados, diminuindo a valorização da pessoa sobre si mesma, é também diminuída ou quase negada a identidade da pessoa pessoal, diminuindo o afeto pessoal, é também diminuído o afeto relacional.
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Se uma pessoa se sente realizada pelos bens materiais que possui, sendo eles um meio para a sua ostentação social, só terá interesse no outro se ver nele os mesmos valores materiais que possui ou que tenciona possuir, podendo visualizar o outro apenas como uma ponte para a empresa de ter o “não ser pessoal” que não possui.
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Devemos procurar ressaltar a importância dos valores naturais da pessoa, para que a matéria seja tratada como tal, e não continue a sua ascensão sobre o ser humano na sociedade capitalista hodierna.
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"Todo o progresso ameaça o homem de uma espécia de perigo interno...
A coisa...é o que acaba por possuir aquêle que a possui..." (Jean Lacroix)
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“O homem, pode viver a maneira de uma coisa. Mas como não é coisa, uma vida assim lhe parece uma demissão, e temos então do "divertissement" de Pascal, o "estágio estético" de Kierkegaaard, a "vida inautêntica" de Heiddeger, a "alienação" de Marx, à "má fé" de Sartre”. (Emmanuel Mounier) (2)
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Lailson Castanha.
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(1)LACROIX, Jean (direção). Os homens diante do fracasso. São Paulo: Loyola. 1970.
(2)MOIX, Candide. O pensamento de Emmanuel Mounier. São Paulo, Paz e Terra: 1968.
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