Emmanuel Mounier (1905-1950) e sua filha Anne

Espaço para difusão da filosofia personalista de Emmanuel Mounier e para ponderações de vários temas importantes, tendo como referência essa perspectiva filosófica.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Cristianismo desencarnado.

O que se conhece por cristianismo hoje, quase nada tem haver com a fé em Cristo e no seu sacrifício na Cruz como fator preponderante para nossa reconciliação e recomeço, nada tem a ver com amor e justiça. Hoje cristianismo em suas diversas vertentes é uma religião desencarnada de sua matéria principal. Vemos nas igrejas apenas a ideia de cristianismo, mas não conseguimos enxergar essa ideia encarnada.
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A essência Cristã é Cristo, ele é visto no meio da cristandade pelos seus valores, e quando esses valores são adotados e exercitados de forma real, quando isso acontece, quando a matéria principal, que é a doutrina de Cristo está encarnada, não mais haverá representação, mas através da vivência desses valores haverá a demonstração de vida cristã, e todos os que estão a ver, verão um cristianismo autêntico de uma fé encarnada, demonstrada nas ações e nos valores da cristandade. Cristo, através do cristianismo encarnado será entendido, por que seus valores serão expostos na vivência de cada um que tem no cristianismo sua identidade existencial. Mas o que vemos hoje nos círculos cristãos, não é a mensagem cristã encarnada, em cada vertente vemos uma encarnação ou uma ideia dominante, tomando lugar da mensagem evangélica, incorporada nas manifestações e preocupações de cada seguimento cristão representado. Em alguns seguimentos, egoísmo incorporado numa teologia de um deus prestador de serviços, é que domina a liturgia. Em outros vemos a teologia, apesar de não intrínseca, não essencial, dominando a preocupação dos clérigos dessa representação cristã, o domínio é tão forte que muitas vezes o excesso de zelo pela teologia que encarnam, os fazem esquecer de enfatizar o amor, a mais importante manifestação do cristianismo. É o dogma teológico ganhando mais corpo do que os preceitos de Cristo é a ostentação teológica em maior apreço do que o cristianismo encarnado. E por outro lado também é real na maioria das comunidades cristãs, a despreocupação com o ensino cristão é o cristianismo sem o uso dos dons para o serviço do Reino de Deus, sem o ensino sem a exortação, é o cristianismo sem a responsabilidade com as vidas. É o cristianismo sem discípulos, desencarnado. A situação é tão horrenda, que lideres que defendem uma linha teológica expõe uma crise aberta recentemente na comunidade do outro, que defende um outro pensamento. A vitória da teologia para o primeiro grupo foi mais importante do que guardar a unidade do Espírito no vínculo da paz. A teologia encarnou-se, colocando a unidade cristã apenas como uma mensagem. Corpo mesmo, vivência, apenas ao dogma teológico.
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Só com o cristianismo encarnado seremos diligentes em guardar a unidade do Espírito no vínculo da paz, porque o amor cristão, o amor de Cristo encarnado, tem poder de nos unir mesmo em nossas diferenças filosóficas e teóricas. É necessário que os cristãos busquem com toda alma viver esse amor, para que Cristo e não a teologia seja glorificada.
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Apesar de naturalmente nos identificarmos com um sistema teológico ou filosófico, por termos uma pessoalidade e nela uma tendência que nos diferencia do raciocínio do outro ser, temos em comum a uniformidade das principais doutrinas do cristianismo e nelas devemos nos apegar, para não nos distanciarmos do amor e da convivência harmoniosa com os domésticos na fé.
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Patrística, agostianismo, tomismo, calvinismo, arminianismo, teologia relacional, apesar de serem importantes como sistemas de identidade filosófica-teológica, nada são se comparado com a importância da encarnação da mensagem de Cristo na vida dos cristão.
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"Conhecemos o amor nisto: que ele deu a sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos irmãos". ( 1Jo.3 16.)
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(1)_"Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados, (2)_com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor (3)_esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz; (4)_há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação". (Ef. 4.1-4)
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Lailson Castanha
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Gravura: H. Bosch (1450 - 1516)
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