Emmanuel Mounier (1905-1950) e sua filha Anne

Espaço para difusão da filosofia personalista de Emmanuel Mounier e para ponderações de vários temas importantes, tendo como referência essa perspectiva filosófica.

domingo, 6 de maio de 2012

Seminário Mounier e Ricoeur

Seminário Mounier e Ricoeur

Pessoa, comunidade e a nossa condição terrestre em instituições justas na obra de E. Mounier e de P. Ricoeur.

DATA: 7 de maio de 2012
LOCAL: Centro Universitário Salesiano de São Paulo – Unisal Lorena/SP.
ORGANIZAÇÃO: Rede E. Mounier e P. Ricoeur do Brasil, Curso de Filosofia e Mestrado em Direito (reconhecido pela CAPES) do UNISAL.
COMISSÃO ORGANIZADORA: Prof. Dr. Alino Lorenzon (Uerj) , Prof. Ms. Daniel da Costa (Professor – Unisal), Prof. Dr. Lino Rampazzo (Coord. do curso de Filosofia – Faculdade Canção Nova) , Prof. Ms. Mário José Dias (Coord. do curso de Filosofia – Unisal), Profª. Drª. Grasiele Augusta Ferreira Nascimento (Coord. do Mestrado em Direito – Unisal), Esp. Roberta Werneck Magalhães dos Santos (Encarregada dos Projetos e Eventos – Unisal).

Mais informações: Prof. Ms. Mário José Dias, Coordenador do Curso de Filosofia – Unisal Lorena. E-mail: curso.filosofia@lo.unisal.br

Tel.: (0xx12-3159.2033)

Programação

08h00: Inscrições e entrega do material

08h15: Abertura D. Benedito Beni dos Santos (Bispo da Diocese de Lorena)
Coordenador dos Trabalhos da manhã: Prof. Ms. Mário José Dias
08h30: Mesa-RedondaO personalismo como condição e fundamento da vida
Prof. Dr. Alino Lorenzon (UERJ): Pessoa, comunidade e a nossa condição terrestre em instituições justas.
Prof. Ms. Daniel da Costa (UNISAL): Descartes na formação do pensamento de E. Mounier.
Prof . Dr. Paulo Cesar da Silva (UNISAL): A ação ética e a realização pessoal e social na obra O Personalismo de Mounier.
 
10h00: IntervaloLançamento da edição brasileira do livro de Guy COQ – Mounier – O engajamento político pela Editora Ideias & Letras.

10h30: Mesa-RedondaA educação na perspectiva personalista.

Prof. Dr. Antônio Joaquim Severino (USP): Recolhimento em si e abertura ao outro: contribuições do personalismo o para a educação da pessoa.
Prof. Dr. Ricardo Almeida de Paula (UCB): Crise da pessoa e crise da educação: um estudo do personalismo de Emmanuel Mounier.
Prof. Ms. Jefferson da Silva (UNISAL): A simbólica faz pensar: no pensamento de Paul Ricoeur.

12h00: Intervalo para almoço

Coordenador dos trabalhos da tarde: Prof. Dr. Lino Rampazzo
13h30: Mesa-RedondaO personalismo e seus desdobramentos na contemporaneidade.
Prof. Drª. Francisca Eleodora Santos Severino (UNIABC): A condição feminina e a condição materna da mulher.
Prof. Ms. Március Tadeu Nahur (UNISAL): Ética ecológica e responsabilidade em Jonas e Ricoeur: caminho para uma ação ambiental mobilizadora.

15h00: Intervalo

15h30: Mesa-RedondaAs Instituições Justas na perspectiva personalista.
Prof. Dr. José Marcos Miné Vanzella (UNISAL): A distinção do justo e do bom e a questão das instituições no pensamento de Paul Ricoeur.
Prof. Ms. Roberto Roque Lauxen (UPF): Instituições justas e instituições injustas nos planos nacional e internacional.
16h30: EncerramentoImpressões finais sobre o encontro (Prof. Dr. Alino Lorezon, Prof. Drª. Grasiele Nascimento, Prof. Dr. Lino Rampazzo e Prof. Ms. Mário José Dias)

Uma breve apresentação dos filósofos

Emmanuel Mounier (1905-1950)

Um estilo diferente de filosofar e um cristão comprometido com mundo mais justo. O estilo do filosofar de Mounier é muito original, porquanto sua reflexão se nutre do Acontecimento no sentido amplo da palavra e se engaja no testemunho da ação. Sua filosofia centrada na pessoa humana constitui uma negação do individualismo,“inimigo número um do espírito comunitário”, bem como do capitalismo dominado pelo reino do dinheiro e do totalitarismo que nega a liberdade e a pessoa. Para tanto, será preciso lutar pelo despertar da pessoa e pelo despertar comunitário. “A pessoa só se afirma na comunidade” Dessa forma, a pessoa não é um meio-termo entre o indivíduo e a sociedade. Ademais, não podemos fazer um discurso geral e vago sobre a pessoa humana. “Nós fizemos uma escolha. Em nossa investigação, não queremos apenas tratar do homem, mas combater pelo homem”. Por isso, temos que ver na pessoa uma situação concreta, contraditória e historicamente situada e constitutivamente comunitária. Ora, o despertar da consciência de pertença à comunidade se impõe, hoje mais do que nunca, como uma necessidade e como uma urgência inadiáveis em vista da própria sobrevivência do ser humano e da escassez dos recursos do planeta. Desiludido com o estilo de ensino da filosofia da Sorbonne de Paris, que soberanamente desconhecia os problemas e dramas humanos, Mounier faz a opção de seguir o caminho difícil fora da universidade. Então, com um grupo de jovens de sua época, lança um movimento e a revista Esprit. Esta continua sendo ainda hoje uma das mais importantes (se não a mais importante) da França e da Europa. Mounier, como cristão, teve uma excelente formação bíblica dada pelo Padre Pouget, um lazarista de uma sólida cultura. Formação continuada pelos intercâmbios com os grandes teólogos franceses do seu tempo, pioneiros do Vaticano ll. G.Coq ressalta os méritos do cristianismo de Mounier, por ter sido capaz de “articular o engajamento social, político e cristão sem subestimar os riscos espirituais do engajamento temporal”.

NB – Para o leitor que deseja ler alguma obra de ou sobre Mounier, poderá consultar o site: www.estantevirtual.com.br e encontrará textos importantes a preços módicos. Vale a pena ler a excelente obra de Guy COQ, intitulada Mounier – O engajamento político da Editora Ideias&Letras a ser lançada neste seminário.

Paul Ricoeur (1913 - 2005)

Foi um dos grandes e dos mais fecundos filósofos e pensadores franceses do período que se seguiu à Segunda Guerra Mundial. Feito prisioneiro, esteve internado em vários campos da Alemanha até 1945. Após a Liberação, Ricoeur ensina filosofia na Universidade de Estrasburgo e em seguida na Universidade de Nanterre não região parisiense. Simultaneamente dirige o Centro de Pesquisas Fenomenológicas e Hermenêuticas do CNRS (Centre National de la Recherche Scientifique). Paralelamente a essas funções, Ricoeur ensinava filosofia na Universidade de Chicago nos EUA de 1972 até a sua aposentadoria em 1983. Participa dos grandes debates do momento sobre linguística, psicanálise, estruturalismo e hermenêutica, com um interesse particular pelos textos sagrados do cristianismo. Segundo sua própria afirmação, Ricoeur foi desde o início influenciado pelos filósofos Gabriel Marcel, Emmanuel Mounier e Edmund Husserl. Falando da influência recebida de Mounier e de Esprit antes da Segunda Guerra, Ricoeur afirma que a conjunção entre pessoa e comunidade representava um grande avanço inédito.Ademais, aprendia com Mounier a necessidade de articular as convições espirituais com as tomadas de posição políticas que até este momento era apenas justapostas aos meus estudos universitários e aos meus engajamentos nos movimentos da juventude protestante. Um pensador de uma grande fecundidade no campo da filosofia. Os temas abordados são os mais variados, mantendo no entanto uma articulação lógica e literária notável. Descendo por exemplo em profundidade no interior da existência humana, Ricoeur vê que o homem concreto é vontade falível e, portanto, capaz de mal. A antropoloqia de Ricoeur delineia um homem frágil, sempre sobre o abismo entre o bem e o mal. A problemática da simbólica do mal leva Ricoeur ao tema da linguagem, projeto que encontra seus inícios com um escrito sobre Freud: Da interpretação. De certa forma, o trabalho filosófico de Ricoeur se apresenta como uma teoria da pessoa humana, porque esta continua sendo “o melhor candidato para sustentar as batalhas jurídicas, políticas,econômicas e sociais”. No campo da justiça e da ética, Ricoeur elabora uma teoria original, formulada na seguinte asserção: “Chamamos “perspectiva ética”, a perspectiva da “vida boa” com e para o outro em instituições justas”. A produção filosófica de Ricoeur é muito extensa. Uma boa parte de suas obras está em português.Neste site: www. estantevirtual.com.br é possível encontrar muitas de suas obras a preços módicos.

Prof. Dr. Alino Lorezon

Resumos

Coordenador das mesas: Prof. Ms. Mário José Dias

Mesa-Redonda: O personalismo como condição e fundamento da vida

Pessoa, comunidade e a nossa condição terrestre em instituições justas.

Alino Lorenzon (UERJ)1

Na história da humanidade sempre houve crises e exigências de mudanças profundas. No entanto, nós hoje uma profunda crise de civilização e de valores morais, como diria Mounier. De um lado há um individualismo alimentado pela ganância e pelo consumismo exagerado, exaurindo os escassos e limitados recursos do planeta e, de outro, as desigualdades sociais e a violência sob múltiplas formas. A Carta da Terra redigida na Conferência Mundial da RIO-92 começa com o seguinte lema: “Nós pertencemos a uma única família humana e a uma única comunidade terrena com um destino comum”. Por isso, a temática da pessoa, da comunidade, da ecologia e das instituições constituem um sério desafio para o pensador que não dissocia a sua reflexão de um engajamento de mudança.

Descartes na formação do pensamento de E. Mounier.

Prof. Ms. Daniel da Costa (UNISAL)2

É pela leitura de um texto inédito produzido por Emmanuel Mounier, o seu trabalho de conclusão do curso de filosofia que realizou sob a orientação do filósofo Jacques Chevalier, e ainda não lançado em Francês (Mounier, EMMANUEL, Le conflit de l’Antropocentrisme et du théocentrisme dans La philosophie de Descartes, Diplôme d’etudes supérieures de philosphie, Grenoble, Juin, 1927.), que já podemos perceber algumas linhas diretrizes do que se desenvolverá, aos poucos, com o lançamento da Revista Esprit, como as linhas do pensamento engajado de Emmanuel Mounier: do seu personalismo. A partir do mesmo, será interessante notar, primeiramente, os delineamentos de um problema fundamental que inspirará os dois “jovens inconformados”, Mounier e Izard, a empreenderem a aventura de lançamento, em 1932, de uma “revista internacional” de crítica política e cultural: Esprit. Também poderemos alcançar uma melhor compreensão do primeiro artigo lançado no primeiro número de Esprit (Refazer a Renascença) e que compõe, com outros, uma série de textos programáticos que cobre os anos de 1932 a 1935 intitulada: Révolution personaliste et communautaire, Oeuvres, Tome I, Éd. du Seuil, Paris, 1961. Assim, a leitura do texto juvenil Le conflit ... nos coloca em suspeita contra a facilidade de uma certa crítica generalizante destes primeiros delineamentos (artigos programáticos) de Mounier, como se se tratassem simplesmente de “textos pouco consistentes conceitualmente e já superados pela mudança dos eventos atuais”. Além de nos depararmos com uma interessante abordagem feita por Mounier da obra de Descartes que destoa de certos lugares comuns – pró e contra o chamado “racionalismo” de Descartes – da tradição de comentadores que se amontoam em prateleiras de livrarias e bibliotecas.

A ação ética e a realização pessoal e social na obra O Personalismo de Mounier.
Prof. Dr. Paulo César da Silva (UNISAL)3

Mounier, em sua obra “O personalismo”, defende que o universo da pessoa se estrutura em sete dimensões, unificadas na única identidade pessoal. Estas dimensões são, com as palavras de Mounier, “A existência incorporada, A comunicação, A conversão íntima, O afrontamento, A liberdade em condições, A eminente dignidade e O compromisso.” A pessoa humana é justamente compreendida de forma dinâmica, o que significa que ela é dom e projeto. O desenvolvimento deste projeto pessoal se realiza na medida em que a ação corresponda à identidade da pessoa e se ajuste, consciente e livremente, à norma própria para o ser pessoal. A pessoa humana, à medida que age eticamente, contribui para a realização de si e do outro, como pessoa, e da sociedade humana. A realização de si e da sociedade exige que a pessoa se autoconheça o mais possível, na sua integralidade, e participe, enquanto pessoa, no conjunto da sociedade humana. Participar, “enquanto pessoa”, implica que ela aja e contribua para que as ações das demais pessoas sejam conforme as dimensões estruturais do universo pessoal. Destaca-se a “A eminente dignidade”, tendo-se em vista a necessidade da educação da faculdade axiológica que possibilita compreender o valor da pessoa humana, visto que este valor é um transcendental da sua estrutura ôntica. O pressuposto antropológico personalista é condição indispensável para a análise, o discernimento e as ações que realizam as mudanças necessárias das estruturas institucionais de quaisquer matrizes, sejam individualistas, coletivistas ou mistas, em vista à realização da pessoa e o bem comum de toda a sociedade humana.

Mesa-Redonda: A educação na perspectiva personalista.

Recolhimento em si e abertura ao outro: contribuições do personalismo o para a educação da pessoa.

Prof. Dr. Antônio Joaquim Severino (USP)4

Após resgate do alcance da postura de Mounier como educador e da proposta personalista para a educação da pessoa comprometida com o destino da comunidade, buscar-se-á explicitar a dialeticidade da condição da existência pessoal como tensão permanente entre os movimentos de interiorização e de exteriorização, necessários à sua realização, mas que podem também levar à alienação, tiram-se as implicações dessa ambivalência para uma educação que esteja à altura do enfrentamento dos desafios do mundo contemporâneo, marcado fortemente pelo predomínio da exteriorização. Tem-se presente que o apelo utópico que se põe no horizonte para o pensamento emancipador é o de transformar os indivíduos naturais em pessoas e de transformar as sociedades reificadas em comunidades de cidadãos livres, capazes de tomar seu destino histórico nas próprias mãos.

Crise da pessoa e crise da educação: um estudo do personalismo de Emmanuel Mounier.
Prof. Dr. Ricardo Almeida de Paula (UCB)5

Mediante o dialógico do Cogito, entre imanência e transcendência, Mounier demonstra o elemento de equilíbrio entre estas duas premissas através da categorização da pessoa, ao afirmar não poder ser ela tratada na mesma ordem dos objetos naturais. Ou seja, “a pessoa não é um objeto. Ela é antes tudo aquilo que em cada homem não pode ser tratado, como objeto” (MOUNIER, Oeuvres III, p. 430). Ao propor esse diálogo devemos ter em mente que a pessoa não pode ser pensada “como uma coisa ou substância que possua determinadas qualidades ou se encontre ao lado de seus atos ou simplesmente junto deles” (BORAU, 2007, p. 298), mas, deve ser considerada sua condição ontológica - o seu “ser” em face do Ser.

A simbólica faz pensar: no pensamento de Paul Ricoeur.

Prof. Ms. Jefferson da Silva (UNISAL)6

Segundo Ricoeur, na sua obra Finitude e Culpabilidade (1960), pensar a simbólica é tentar encontrar outras possibilidades para além de uma linguagem uniformizadora. É restaurar os signos sagrados que foram esquecidos pelo homem moderno. De fato, para o homem se conhecer e se compreender é necessário utilizar um “atalho”, a saber, as expressões da vida, ou obras da cultura, como os símbolos. O símbolo significa algo sobre a nossa realidade antes mesmo do próprio ato de filosofar. Porém, ele só é capaz de expressar algo na medida em que é interpretado. Quando interpretado, pode dizer mais sobre a realidade, pois extrapola o cognitivo que, por não dar conta de toda a realidade, está sujeito (pela falibilidade) ao erro, a interpretações unívocas, possibilitando, na ação, a penetração do mal. Assim, o pensar sobre o simbólico leva a hierofanias esquecidas; e, a partir dessas e pelo processo interpretativo, podem-se ampliar as significações da realidade e do próprio sujeito que pensa.

Coordenador das mesas: Prof. Dr. Lino Rampazzo

Mesa-Redonda: O personalismo e seus desdobramentos na contemporaneidade.

A condição feminina e a condição materna da mulher.

Prof. Drª. Francisca Eleodora Santos Severino (UNIABC)7

A comunicação busca relacionar gênero e maternidade tendo como objetivo trazer à tona a falta de igualdade entre gêneros no contexto das mudanças sociais e do humanismo com destaque para a contribuição dos filósofos Paul Ricoeur e E. Mounier. A reflexão evidencia a insuficiência da filosofia ao abordar os discursos construídos pelo masculino. A reconstrução das representações de feminilidade decorre das exigências da nova ordem mundial que insiste no esvaziamento da noção do outro e na exigência de novos conceitos filosóficos que lhes dêem respaldo. A oposição masculino/feminino é abordada pela filosofia pela mediação de um pensamento por opostos que faz emergir o vício de se ver a mulher pelo prisma biológico da divisão sexual do trabalho, desconsiderando aspectos históricos culturais e os planos lógicos e epistemológicos de análise. Mounier e Ricoeur incidem na afirmação da necessidade de ultrapassar esta dicotomia.

Ética ecológica e responsabilidade em Jonas e Ricoeur: caminho para uma ação ambiental mobilizadora.

Prof. Ms. Március Tadeu Nahur (UNISAL)8

O diálogo filosófico entre Hans Jonas (“O princípio responsabilidade: ensaio de uma ética para a civilização tecnológica”) e Paul Ricoeur (“Ética e filosofia da biologia em Hans Jonas”) traz uma revelação: o moderno “saber-poder-fazer” tecnológico propicia um extraordinário potencial de intervenção humana na natureza, inclusive destrutivo. Isso apela para uma ética da responsabilidade capaz de abrir caminho para o agir humano mobilizador da (pre) ocupação de se preservar as condições sob as quais o autenticamente humano se revela no curso de sua história. A ética da responsabilidade é um sim ao ser, um não ao não ser, que a vida pronuncia sobre si mesma espontaneamente, e prenuncia para o agir humano um compromisso presente-futuro que não negligencie a natureza, o homem e a humanidade.

Mesa-Redonda: As Instituições Justas na perspectiva personalista.

A distinção do justo e do bom e a questão das instituições no pensamento de Paul Ricoeur.

Prof. Dr. José Marcos Miné Vanzella (UNISAL)9

O presente ensaio aborda o problema da distinção do bem e do justo no pensamento de Paul Ricoeur. Trata-se de explicar como a abordagem do autor procura superar as limitações da leitura metafísica clássica e do universalismo abstrato em sua concepção do justo. Apresenta a distinção do conceito de bem na ética de Ricoeur, entendido a partir da estima de si, que corresponde ao desejo da vida boa e abrange a solicitude, a qual significa viver bem com e para o outro, expressão da vontade de viver juntos. A questão ética diferencia-se da questão moral, a qual implica a pretensão da universalidade e obrigação, postas em sociedades pluralistas, inicialmente pelo universalismo abstrato e formal. O autor identifica que são movidas pela ideia de reconhecimento com valor universal concreto. A passagem do reconhecimento do outro próximo ao distante é também o passo da amizade à justiça. O nexo da justiça e instituição é a figura inteiramente desenvolvida da bondade. Universalismo e contextualismo, não se opõem, mas são complementares em níveis diferentes, pois a preservação das identidades culturais exige um trabalho de compreensão mútua e de tradução recíproca. A justiça se estabelece como justa distancia entre o si e o outro encontrado como distante. Distingue assim o nível da moral e o complementa com o da sabedoria prática que assume a diversidade das heranças culturais e os problemas de aplicação dos princípios universais abstratos.

Pessoa e promessa em Paul Ricoeur: no caminho das instituições justas

Prof. Dr. Roberto Roque Lauxen10

Nosso trabalho busca os fundamentos do conceito de pessoa no marco histórico do pensamento de Paul Ricoeur procurando certa relação de continuidade à abordagem de Soi-même comme un autre. Neste recorrido histórico a pessoa é definida pela noção de ato e de atitude, que para nós é a raiz ontológica da ipseidade, em oposição ao indivíduo que representa a mesmidade. A tensão entre o ato livre que se encarna no tempo aparece em 1936 através do paradoxo da encarnação. Neste contexto – onde o homem e o filósofo se confundem em Ricoeur – o salto para o engajamento e a responsabilidade nasce da vocação do cristão, do mortificar-se e perder-se pelo outro. Em 1983 Ricoeur incorpora o conceito de crise e convicção. A convicção nasce da percepção do intolerável de onde parte o engajamento que faz face à crise, através da “identificação do sujeito com forças transubjetivas”. Defendemos que a noção de promessa de Soi-même comme un autre (1990) incorpora todas estas dimensões que foram gestadas em períodos anteriores de seu pensamento. Por isso, propomos uma analogia entre o intolerável e os puzzling cases da identidade pessoal e narrativa, de onde surge o engajamento, a convicção e a manutenção de si na promessa. Uma segunda linha de defesa é que a promessa é base das instituições justas, pois ela estabelece uma determinação para a liberdade, como responsabilidade pelo outro. Destacamos, por fim, certo distanciamento de Ricoeur em relação a este marco histórico a partir da função central do “terceiro” ou da “sociabilidade” na constituição da pessoa, e a necessidade de sua realização através das instituições justas.

Seminário E. Mounier e P. Ricoeur

TEMA GERAL: Pessoa, comunidade e instituições na obra de E. Mounier e de P. Ricoeur.
DATA: 7 de maio de 2012
LOCAL: UNISAL – Centro Universitário Salesiano de São Paulo. Lorena/SP.

ORGANIZAÇÃO: Rede E. Mounier e P. Ricoeur do Brasil e Curso de Filosofia e Mestrado em Direito (reconhecido pela CAPES) do UNISAL

Comissão organizadora: Prof. Alino Lorenzon, Prof. Daniel da Costa, Prof. Lino Rampazzo, Prof. Mário José Dias (Coord. do curso de Filosofia da Unisal), Profa. Dra Grasiele Augusta Ferreira Nascimento Profa. Roberta Werneck Magalhães dos Santos (Encarregada dos Projetos e Eventos da Unisal).

Mais informações: Prof. Mário José Dias, Coordenador do Curso de Filosofia da UNISAL. Email: curso.filosofia@lo.unisal.br .Tel.: (0xx12-3159.2033)

Programa

08h: Inscrições e entrega do material
08h15: Abertura D. Benedito Beni (Bispo da Diocese de Lorena)

Coordenador dos Trabalhos da manhã: Mário José Dias
08h30: Mesa-Redonda: O personalismo como condição e fundamento da vida
Alino Lorenzon (UERJ) - Pessoa, comunidade e a nossa condição terrestre em instituições justas.
Daniel da Costa (UNISAL): Descartes na formação do pensamento de E. Mounier.
Paulo Cesar da Silva (UNISAL): A ação ética e a realização pessoal e social na obra O Personalismo de Mounier.
10h Intervalo. Lançamento da edição brasileira do livro de Guy COQ – Mounier – O engajamento político pela Editora Ideias & Letras.
10h30 Mesa-Redonda: A educação na perspectiva personalista.
Antônio Joaquim Severino (USP): Recolhimento em si e abertura ao outro: contribuições do personalismo o para a educação da pessoa.
Ricardo Almeida de Paula (UCB): Crise da pessoa e crise da educação: um estudo do personalismo de Emmanuel Mounier.
Jefferson da Silva (UNISAL): A simbólica faz pensar: no pensamento de Paul Ricoeur.
12h Intervalo para almoço
Coordenador dos trabalhos da tarde: Lino Rampazzo
13h30- Mesa Redonda: O personalismo e seus desdobramentos na contemporaneidade.
Carlos Roberto da Silveira (Faculdade Católica de Pouso Alegre): Espiritualidade na saúde: contribuições do personalismo de E. Mounier.
Francisca Eleodora Santos Severino (UNIABC): A condição feminina e a condição materna da mulher.
Március Tadeu Nahur (UNISAL): Ética ecológica e responsabilidade em Jonas e Ricoeur: caminho para uma ação ambiental mobilizadora.
15h Intervalo
15h30 Mesa-RedondaAs Instituições Justas na perspectiva personalista.
José Marcos Miné Vanzella (UNISAL)- A distinção do justo e do bom e a questão das instituições no pensamento de Paul Ricoeur.
Roberto Roque Lauxen (UPF): Instituições justas e instituições injustas nos planos nacional e internacional.
16h30- Encerramento: Impressões finais sobre o encontro (Alino Lorezon, Grasiele Nascimento, Lino Rampazzo e Mário Dias)
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(1) Doutor em Filosofia pela Universidade de Paris - X
(2) Mestre em Filosofia pela Universidade de São Paulo, professor do Centro Universitário Salesiano de São Paulo.
(3) Doutor em Filosofia pela Universidade Gama Filho, professor do Centro Universitário Salesiano de São Paulo e da Faculdade Canção Nova.
(4) Doutor em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
(5) Doutor em Educação pela Universidade Federal de Goiás e professor na Universidade Católica de Brasília. (6) Mestre em Filosofia pela Universidade São Judas Tadeu, professor do centro Universitário Salesiano de São Paulo.
(7) Doutora em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo e professora pesquisadora na Universidade do Grande ABC.
(8) Mestre em Biodireito, Ética e Cidadania pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo, onde também atua como professor do curso de Filosofia e Direito.
(9) Doutor em Filosofia pela Universidade Gama Filho, professor do centro Universitário Salesiano de São Paulo e da Faculdade Dehoniana.
(10) Doutor em Filosofia pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos e professor da UPF. E-mail: rrlauxen@yahoo.com.br

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Intentamos propagar o personalismo, bem como suas principais ideias e seus principais pensadores, com a finalidade de incitar o visitante desse espaço a ponderar de forma efetiva sobre os assuntos aqui destacados e se aprofundar na pesquisa sobre essa inspiração filosófica, tão bem encarnada nas obras e nos atos do filósofo francês, Emmanuel Mounier.

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