Uma das cenas mais comuns na paisagem urbana é a presença de pombos a sobrevoar os céus e a povoar praças, canteiros e as fiações da rede elétrica. É também bastante comum, visualizarmos os habitantes das cidades, frequentadores das praças e dos canteiros, observando essas aves, admirados com a sensação de liberdade que elas nos proporcionam. Como é lindo observa-las!Parece-nos, que a liberdade se mostra plena nelas, que, de tão livres, sobem até nos fios da rede elétrica, sem se machucar.
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Olhando para a cidade de São Paulo na visão panorâmica concedida pelos cartões postais, ou pelas imagens da televisão, vemos uma cidade atraente, com seus arranha-céus, suas avenidas movimentadas indicando-nos o progresso, vemos sua riqueza ostentada pelo palácio dos Bandeirantes (sede do governo estadual), pelos modernos prédios da avenida Paulista, pelas colossais estruturas da engenharia, em forma de pontes, estádios de futebol, casas de espetáculos.
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Essa grandiosidade ostensiva, e ostentada, dá-nos a sensação de avanço social, de modernidade, de progresso, e de, (por que não?), mais humanidade.
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Certo dia, era um dia tranquilo para mim, dia daqueles que você se dá ao luxo de perder (ou ganhar) tempo observando pombos. E foi isso que eu fiz. Na praça em que me encontrava, avistei uma pombo mutilado, ele não tinha um dos seus dedos. Na medida que ele ciscava eu acompanhava os seus movimentos, até se misturar com as outras aves de sua espécie. No momento em que ele se mistura com seus parceiros, escolho outro e mais outros pombos para observar. Essa observação me revelou um dado bastante inquietante e desconfortável. Essas aves que tanto estimamos, que parece estar quase que em total tranquilidade e sintonia com a vida urbana, sofrem muitas privações, e são, assim como nós, muitas vezes agredidas pelos meios mais diversos que compõe o quadro da paisagem urbana.
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Olhando as outras pombos, percebi,que muitos estavam mutilados, um sem um dedo, outro sem uma pata, outro ferido, outro cego.
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Depois de localizar e observar as pombos a partir de um pombo"particular", pude perceber que eles não eram tão intocáveis e livres assim como eu imaginava; depois dessa observação, já não os tenho como simbolo da liberdade e da tranquilidade.
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Moro em São Paulo. Quando criança, gostava de sentar no banco do salão de cabeleireiro de meu pai, e observar alguns cartões postais; muitos daqueles postais retratavam a cidade Paulistana. Lembro-me,nitidamente das fotos do Vale do Anhangabaú, da Av. São João, Praça da Sé e muitas outras fotos, tanto de postais, como de revistas que retratavam a grandeza e o progresso de São Paulo. Vale lembrar, que as fotos eram tiradas numa tomada aérea, numa visão macro, panorâmica, geral,mas, superficial.
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Hoje trabalho próximo ao centro, todo dia, a tarde e a noite, eu transito pelas ruas centrais. Só que diferente dos postais, minha visão dessa cidade, dà-se numa tomada interna, numa micro-visão, particular, intimista,terreal.
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Conhecendo São Paulo do chão, percebe-se que o progresso pisa no atraso, que a riqueza esbarra na miséria, que o avanço social de alguns direitos adquiridos, usufruído por uma minoria, ignora o retrocesso social da total ausência de dignidade e da vivência de direitos constitucionais, como habitação, educação, alimentação, encarnadas na pele de cidadãos sem cidadania, sem direitos e sem dignidade, ou seja, pessoas totalmente ignoradas.
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Olhando superficialmente, São Paulo é moderno e rico, observando sensivelmente, a cidade é retrógrada e pobre.
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Esses dois exemplos que usei, são frutos de uma lição personalista; nunca devemos julgar ou definir, a partir de uma observação panorâmica, devemos buscar as particularidades de cada sujeito para conhecermos melhor o coletivo, nunca o contrário.
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Se eu não observasse uma pomba isoladamente, teria em mente a ideia de que elas vivem em total harmonia com a civilização urbana, (o que vimos não ser a verdade), se eu não transitasse pelas ruas de São Paulo, teria em mente a ideia de uma cidade próspera, no sentido pleno da palavra, porque seus prédios e sua movimentação nos induzem a esse pensamento. Para rejeitar essa noção,tive que pisar nas ruas dessa cidade.
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Mostrar não é ser, ser é ser.
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A ostentação de riqueza, necessariamente não é riqueza-em-si, de progresso, de justiça, não são reais necessariamente. Ostentação e "ser" são coisas distintas. Eu posso ostentar sendo e não sendo! Quando nos preocupamos apenas com as conquistas de classe,corremos o risco de diminuir a necessidade da conquista de "pessoa pessoal". O metalúrgico, antes de ser metalúrgico, é uma pessoa com necessidades pessoais; se necessita de aumento do salário, pode necessitar também de cuidados especias devido a algum problema diferenciado(psicológico,religioso,social,físico,etc). Julgar uma conquista trabalhista como efetiva conquista do trabalhador, vista panoramicamente, ou apenas coletivamente, pode ser tão equivocado, como julgar a harmonia dos pombos no cotidiano da vida urbana, sem parar para observá-las individualmente, ou o sucesso de uma cidade pelo seu retrato aéreo.
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Será que vale o aumento de salário num ambiente trabalhista insalubre? Será que é vantajoso, para qualquer cidadão, perder o direito do descanso semanal, em troca de um mísero acordo coletivo?
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Eu pergunto: esses acordos coletivos, no final, agradou ou nos agrada, ou, pelo contrário, feriu e fere a nossa pessoalidade.
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Me parece que esses acordos coletivos, com ares de vitórias de classe, sem levar em conta as necessidades fundamentais do ser-humano assemelham-se ao julgamentos equivocado da harmonia e tranquilidade dos pombos no cenário urbano. Faz-se mais do necessária uma nova forma de abordagem em qualquer negociação e, em qualquer campo de ação. Nunca podemos esquecer,que devemos negociar, tendo como inegociáveis, as satisfações de necessidades fundamentais do ser-humano, como: descanso semanal, a primazia da família, a dignidade humana, tendo em vista que a insalubridade fere esse direito a dignidade, e o direito da expressão personalista, ou seja expressão do ser como pessoa, um ser com necessidades diferenciadas, justamente por ser uma pessoa, com uma pessoalidade.
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Olhando para a cidade de São Paulo na visão panorâmica concedida pelos cartões postais, ou pelas imagens da televisão, vemos uma cidade atraente, com seus arranha-céus, suas avenidas movimentadas indicando-nos o progresso, vemos sua riqueza ostentada pelo palácio dos Bandeirantes (sede do governo estadual), pelos modernos prédios da avenida Paulista, pelas colossais estruturas da engenharia, em forma de pontes, estádios de futebol, casas de espetáculos.
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Essa grandiosidade ostensiva, e ostentada, dá-nos a sensação de avanço social, de modernidade, de progresso, e de, (por que não?), mais humanidade.
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Certo dia, era um dia tranquilo para mim, dia daqueles que você se dá ao luxo de perder (ou ganhar) tempo observando pombos. E foi isso que eu fiz. Na praça em que me encontrava, avistei uma pombo mutilado, ele não tinha um dos seus dedos. Na medida que ele ciscava eu acompanhava os seus movimentos, até se misturar com as outras aves de sua espécie. No momento em que ele se mistura com seus parceiros, escolho outro e mais outros pombos para observar. Essa observação me revelou um dado bastante inquietante e desconfortável. Essas aves que tanto estimamos, que parece estar quase que em total tranquilidade e sintonia com a vida urbana, sofrem muitas privações, e são, assim como nós, muitas vezes agredidas pelos meios mais diversos que compõe o quadro da paisagem urbana.
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Olhando as outras pombos, percebi,que muitos estavam mutilados, um sem um dedo, outro sem uma pata, outro ferido, outro cego.
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Depois de localizar e observar as pombos a partir de um pombo"particular", pude perceber que eles não eram tão intocáveis e livres assim como eu imaginava; depois dessa observação, já não os tenho como simbolo da liberdade e da tranquilidade.
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Moro em São Paulo. Quando criança, gostava de sentar no banco do salão de cabeleireiro de meu pai, e observar alguns cartões postais; muitos daqueles postais retratavam a cidade Paulistana. Lembro-me,nitidamente das fotos do Vale do Anhangabaú, da Av. São João, Praça da Sé e muitas outras fotos, tanto de postais, como de revistas que retratavam a grandeza e o progresso de São Paulo. Vale lembrar, que as fotos eram tiradas numa tomada aérea, numa visão macro, panorâmica, geral,mas, superficial.
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Hoje trabalho próximo ao centro, todo dia, a tarde e a noite, eu transito pelas ruas centrais. Só que diferente dos postais, minha visão dessa cidade, dà-se numa tomada interna, numa micro-visão, particular, intimista,terreal.
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Conhecendo São Paulo do chão, percebe-se que o progresso pisa no atraso, que a riqueza esbarra na miséria, que o avanço social de alguns direitos adquiridos, usufruído por uma minoria, ignora o retrocesso social da total ausência de dignidade e da vivência de direitos constitucionais, como habitação, educação, alimentação, encarnadas na pele de cidadãos sem cidadania, sem direitos e sem dignidade, ou seja, pessoas totalmente ignoradas.
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Olhando superficialmente, São Paulo é moderno e rico, observando sensivelmente, a cidade é retrógrada e pobre.
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Esses dois exemplos que usei, são frutos de uma lição personalista; nunca devemos julgar ou definir, a partir de uma observação panorâmica, devemos buscar as particularidades de cada sujeito para conhecermos melhor o coletivo, nunca o contrário.
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Se eu não observasse uma pomba isoladamente, teria em mente a ideia de que elas vivem em total harmonia com a civilização urbana, (o que vimos não ser a verdade), se eu não transitasse pelas ruas de São Paulo, teria em mente a ideia de uma cidade próspera, no sentido pleno da palavra, porque seus prédios e sua movimentação nos induzem a esse pensamento. Para rejeitar essa noção,tive que pisar nas ruas dessa cidade.
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Mostrar não é ser, ser é ser.
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A ostentação de riqueza, necessariamente não é riqueza-em-si, de progresso, de justiça, não são reais necessariamente. Ostentação e "ser" são coisas distintas. Eu posso ostentar sendo e não sendo! Quando nos preocupamos apenas com as conquistas de classe,corremos o risco de diminuir a necessidade da conquista de "pessoa pessoal". O metalúrgico, antes de ser metalúrgico, é uma pessoa com necessidades pessoais; se necessita de aumento do salário, pode necessitar também de cuidados especias devido a algum problema diferenciado(psicológico,religioso,social,físico,etc). Julgar uma conquista trabalhista como efetiva conquista do trabalhador, vista panoramicamente, ou apenas coletivamente, pode ser tão equivocado, como julgar a harmonia dos pombos no cotidiano da vida urbana, sem parar para observá-las individualmente, ou o sucesso de uma cidade pelo seu retrato aéreo.
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Será que vale o aumento de salário num ambiente trabalhista insalubre? Será que é vantajoso, para qualquer cidadão, perder o direito do descanso semanal, em troca de um mísero acordo coletivo?
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Eu pergunto: esses acordos coletivos, no final, agradou ou nos agrada, ou, pelo contrário, feriu e fere a nossa pessoalidade.
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Me parece que esses acordos coletivos, com ares de vitórias de classe, sem levar em conta as necessidades fundamentais do ser-humano assemelham-se ao julgamentos equivocado da harmonia e tranquilidade dos pombos no cenário urbano. Faz-se mais do necessária uma nova forma de abordagem em qualquer negociação e, em qualquer campo de ação. Nunca podemos esquecer,que devemos negociar, tendo como inegociáveis, as satisfações de necessidades fundamentais do ser-humano, como: descanso semanal, a primazia da família, a dignidade humana, tendo em vista que a insalubridade fere esse direito a dignidade, e o direito da expressão personalista, ou seja expressão do ser como pessoa, um ser com necessidades diferenciadas, justamente por ser uma pessoa, com uma pessoalidade.
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Lailson Castanha
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