Emmanuel Mounier (1905-1950) e sua filha Anne

Espaço para difusão da filosofia personalista de Emmanuel Mounier e para ponderações de vários temas importantes, tendo como referência essa perspectiva filosófica.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Crítica da Filosofia Personalista a educação na periferia de São Paulo.

Uma crítica filosófica personalista ao problema da falta de concentração, da agressividade, e da falta de interesse pelo ensino entre os alunos da rede pública de ensino em escolas da periferia de São Paulo, e da ação do professor diante desse quadro.
.
Oferecido ao amigo de lutas, André Luiz O. do Carmo - uma pessoa que ainda acredita na educação e efetivamente se envolve por ela.
.
Problema. Por que o aluno da periferia de São Paulo da rede pública de ensino se mostra desconcentrado e desinteressado com o aprendizado e age agressivamente no ambiente escolar? O que fazer para mudar este quadro?
.
Tese. O ser humano além de sensitivo, um “ser” que se utiliza de capacidades conferidas pela natureza, é também um ser racional. Sendo mais preciso, o ser humano é um ser livre. Ele possui o atributo do livre arbítrio, atributo esse que o faz livre para entrar em confronto com os próprios ditames de sua natureza. Com esses atributos vivenciados de forma plena, ele passa da condição de mero indivíduo, para a condição de pessoa humana. É no uso de seus atributos que ele vivencia efetivamente a sua condição e vocação de “pessoa humana”, antes disso está apenas na condição de individuo, ou seja, na condição menor do que a sua própria vocação e potencialidade.
.
Tendo essas peculiaridades como formadora de seu Estado Maior, o ser humano, só pode ser encontrado, só pode ser atingido, quando são levados em consideração esses tais atributos dantes referidos – sem esse tratamento, encontramos apenas o sujeito.
É a falta do alcance do aluno como pessoa humana que os faz sentir-se não participante, não responsável do, e pelo ambiente escolar. Não sendo tratado com pessoalidade, como pessoa, o aluno não se sente identificado com a escola.
.
O aluno pode se distanciar de sua pessoalidade? Pode estar em situação desagradável em casa e estar bem na escola? Sendo aviltado pelos pais ou responsável, pode se sentir orgulhoso na escola? Podemos separar homem físico de homem espiritual?
.
Essas indagações nos levam os dois caminhos. Ou admitimos a dualidade e ambiguidade na formação do ser humano, ou partimos para o pressuposto que interioridade e exterioridade são aspectos de uma só substância ou no caso do ser humano, de um só indivíduo.
Nosso estudo corrobora a tese de que interioridade e exterioridade são aspectos de uma só substância (de um só indivíduo).
.
Distanciamo-nos da filosofia platônica no que se refere a distinção entre mundo das ideias e mundo da aparência, cremos que a aparência mostra-nos um dos aspectos de uma realidade mais ampla, neste sentido, cremos que assim como não podemos separar o homem essencial do homem aparente, porque a sua aparência de alguma forma revela traços de sua essência, não se pode separar um garoto com problemas em sua residência, em seus relacionamentos e na sociedade, do aluno na sala de aula. O aluno que fora da escola está envolvido num emaranhado de problemas, por conseguinte é um aluno problemático, porque ele, mesmo estudando continua sendo o que é, continua absorvido pelos problemas. O epíteto de "aluno" que lhe foi conferido, não lhe distancia efetivamente dos problemas existenciais que ele vivencia.
.
Como professores, equivocadamente, tratamos o aluno coletivamente, ou seja, tratamos alunos e não pessoas. Indivíduos no meio de uma classe, indivíduos da classe dos estudantes. O problema é que a classe que o representa não destaca sua pessoa, apenas a sua identidade funcional, um alguém em um determinado meio.
.
Cremos que toda pessoa deseja ser percebida em sua pessoalidade. Quando tratamos indivíduo que frequenta a sala de aula apenas como aluno, ignorando a sua pessoalidade, automaticamente ignoramos a sua pessoa.
.
Quando tratamos o aluno como pessoa, ele será incitado a mostrar e destacar a sua pessoalidade. Através dessa abertura, o professor terá a oportunidade de entender o que se passa com o aluno, porque, a partir do momento em que ele destaca sua pessoalidade, passa a destacar o que é realmente, começa a desmascarar as personagens que ostenta na escola e na sala de aula. Começa a derrubar as máscaras que até então ele apresentava ao professor e com isso o professor passará a entender o que leva o seu aluno a agir de tal e tal forma.
.
O problema dos alunos da rede pública de ensino, nas escolas da periferia de São Paulo, em sua maioria, tem raízes familiar ou social. Geralmente é num ambiente familiar ou social doentio que começa a crise de identidade do aluno, o desinteresse por valores éticos, pela educação e cultura. Se no lar ou na ambiência social-coletiva do aluno os valores éticos a educação e a cultura não são enfatizadas, dificilmente ele vai valorizar-las. Como na maioria dos lares e dos ambientes em que nossos alunos transitam esse problema é vivenciado, consequentemente os alunos são afetados por ele, destarte o problema que percebemos na escola é um reflexo do que acontece nos larese na sociedade em que ele está inserido. Com o professor ciente das deficiências estruturais do aluno, deverá tratá-lo de forma adequado a sua situação.
.
Conclusão.
.
Falta de concentração, agressividade, falta de interesse pelo conhecimento, são fenômenos que apontam para uma base irregular – a família desestruturada/sociedade desestruturada.
Nada acontece por acaso, como bem enfatizou Aristóteles tudo o que acontece tem uma relação de causalidade (causa e efeito). Problemas e crises que acontecem pessoas não fogem desta regra, portanto, os alunos também estão inclusos nesta regra.
.
Sabendo disto, o professor deve atentar para este fato, para, quando se deparar um aluno problemático, tentar extrair dele um pouco de sua pessoalidade e com isso apurar o que provocou neste os desarranjos comportamentais.
.
Conhecendo o aluno com mais propriedade, o professor poderá tratá-lo mais adequadamente, possibilitando uma possível reversão no seu quadro comportamental.
.
Lailson Castanha
.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Meu propósito:

Minha foto
Brazil
Intentamos propagar o personalismo, bem como suas principais ideias e seus principais pensadores, com a finalidade de incitar o visitante desse espaço a ponderar de forma efetiva sobre os assuntos aqui destacados e se aprofundar na pesquisa sobre essa inspiração filosófica, tão bem encarnada nas obras e nos atos do filósofo francês, Emmanuel Mounier.

Arquivo do blog

Visitas:

Visitantes online:

Jean Lacroix, Emmanuel Mounier e Jean-Marie Domenach

Jean Lacroix, Emmanuel Mounier e Jean-Marie Domenach

Seguidores