Emmanuel Mounier (1905-1950) e sua filha Anne

Espaço para difusão da filosofia personalista de Emmanuel Mounier e para ponderações de vários temas importantes, tendo como referência essa perspectiva filosófica.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Conhecendo-se a si mesmo, para conhecer um pouco além de si.

Uma das mais mais fortes bases da filosofia, é o conhecimento que situa e identifica o homem. Filosoficamente tem-se como natural a atitude de, antes do homem procurar algo externo de si, primeiramente buscar conhecer-se a si mesmo.
.
É impossível um conhecimento aprofundado sobre quaisquer realidades que nos cercam, sem antes entendermos que ainda não conhecemos essa realidades que nos instigam, ou até mesmo, que estamos observando algo, e que pensamos sobre o objeto de nosso interesse. Mesmo que rejeitássemos como real tudo o que nos cercam, temos antes que nos reconhecer como um alguém que rejeita. Esta atitude de rejeição, já é um princípio de identidade existencial – pois rejeitando tudo, não rejeito a minha existência que se afirma existente, pois na negação das coisas, destaco-me como alguém situado, e que, por estar situado, rejeito. Nisto podemos asseverar, que a procura do conhecimento, deve antes, começar pelo conhecimento de si próprio.
.
Quando um behaviorista rejeita os processos mentais, se apegando apenas a métodos objetivos para o conhecimento, mesmo esta rejeição, foi fruto dos processos mentais colocados como inadequados para o conhecimento. A rejeição, jamais se daria de forma metódica sem o uso da introspecção. Um behaviorista, jamais rejeitaria a subjetividade sem antes conhecê-la em si mesmo, portanto, foi a partir deste conhecimento introspectivo que estes tais pesquisadores desconfiaram rejeitaram a sua eficácia.
.
O homem jamais conhecerá, se antes não conhecer-se a si mesmo, seus limites, o contexto na qual esta inserido, e suas tendências.
.
No ideário bíblico, encontramos a assertiva que o coração é enganoso (Jeremias 17.9). Nesta ideia, temos um princípio do conhecimento de nós mesmos, ou seja, sabendo que o nosso coração é enganoso, podemos perceber que nossa visão, intenções e emoções não são confiáveis, porque a nossa mente (para o judeu, coração) corrompe enganosamente os nossos demais sentidos, e consequentemente, as nossas ações e emoções e ideias, se tornam também enganosos.
.
Saindo do âmbito das ideias para o âmbito sensível, também é necessário que o homem conheça os seus limites físicos, para que não seja traido por falsas impressões.
Quando o homem se percebe como um limitado no que se refere ao saber, ele não se satisfará com as informações de seus sentidos, buscará reforçar o seu entendimento em outras vias do conhecimento.
.
Sócrates percebendo o limite do conhecimento humano, asseverou: “Só sei que nada sei”, Nicolau de Cusa, seguindo a mesma linha de raciocínio, considerou o homem mais elevado como “douto ignorante”, outrossim, um conhecedor de sua ignorância. Por perceber a sua ignorância, deseja sempre conhecer para sair dela, por perceber a sua ignorância, almeja conhecer o que sabe que ignora. Os dois pensadores citados, tiveram a preocupação de conhecer-se a si mesmos, e isto resultou na identificação da ignorância que os envolviam.
.
Nicolau de Cusa, conhecendo-se a si mesmo, e consequentemente conhecendo a sua limitação em relação a totalidade do conhecimento, percebeu que tudo o que referia-se a Deus era inadequado, porque inadequado é o conhecimento humano. A reflexão profunda levou o filósofo de Cusa a conhecer-se a si mesmo, e isto o levou a perceber suas limitações e também fê-lo chegar a conclusão que sua linguagem, pelo limite existencial de que é composta, era inadequada para tratar qualquer coisa referente a Deus.
.
Sempre que o homem deseja expandir o seu conhecimento, necessariamente se deparará com os seus limites – com isso conhecerá, um pouco mais de si mesmo.
.
O homem não demissivo intelectualmente, quando for a busca de conhecimento, sempre será constrangido, a, antes de se envolver na empresa de buscar do conhecimento fora de si, conhecer-se a si mesmo.
.
O “Pregador” ou o “Eclesiastes” figura repassada a Salomão afirma que “Melhor é ir à casa onde há luto do que ir a casa onde há banquete; porque naquela se vê o fim de todos os homens, e os vivos o aplicam ao seu coração.”(Eclesiastes 7.2).
.
Fazendo um esforço para aproximar as ideias relembro a afirmação que Sócrates se apropriou: “Conheça-te a ti mesmo.” Na exortação do Pregador vemos que o homem necessita perceber e relembrar a sua finitude e impotência, para dessa reflexão repensar sobre a vida em sua totalidade, e em Sócrates, não menos exortativo, vemos o destaque na necessidade do homem em conhecer-se, coisa que naturalmente o levará a conhecer a sua pequenez, e lhe trará a consciência de sua inadequação diante do conhecimento.
.
Uma filosofia verdadeira, sempre levará o homem a introspecção reflexiva.
.
______
.
Lailson Castanha
.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Meu propósito:

Minha foto
Brazil
Intentamos propagar o personalismo, bem como suas principais ideias e seus principais pensadores, com a finalidade de incitar o visitante desse espaço a ponderar de forma efetiva sobre os assuntos aqui destacados e se aprofundar na pesquisa sobre essa inspiração filosófica, tão bem encarnada nas obras e nos atos do filósofo francês, Emmanuel Mounier.

Arquivo do blog

Visitas:

Visitantes online:

Jean Lacroix, Emmanuel Mounier e Jean-Marie Domenach

Jean Lacroix, Emmanuel Mounier e Jean-Marie Domenach

Seguidores