Emmanuel Mounier (1905-1950) e sua filha Anne

Espaço para difusão da filosofia personalista de Emmanuel Mounier e para ponderações de vários temas importantes, tendo como referência essa perspectiva filosófica.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Sou um personalista.

SOU UM PERSONALISTA

Definido por mim sou um, por você, sou outro. Pelos outros, sou outro diferente de cada outro definido por outros outros. Diante de tantas conjeturas, como posso eu responder com propriedade quem sou?
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Na minha definição – sou uma multiplicidade de ideias, personalizadas pela minha pessoalidade.

Não sou totalmente autêntico, porquê como diria o Eclesiastes “não existe nada de novo debaixo do céu”, mas também, não sou uma cópia existencial de um projeto de vida, porque as coisas que absorvo, as transformo com a minha pessoalidade. Tenho minha pessoalidade como a minha única riqueza, é o que me torna alguém, e me identifica. Acredito que ser diferente é o que faz a diferença, e as possibilidades de ser diferente se dão quando pessoalizamos as ideias e as forma de absorver as coisas, e vivenciamos a nossa vocação intrínseca. Se olhamos e agirmos uniformemente as ideias serão as mesmas e a contribuição também, mas se cada um enxerga distintamente, e distintamente age, as ideias e as contribuições serão distintas. E, ideias distintas, com contribuições diversificadas, é que esse mundo plural como o nosso, carece.

Sou um personalista.

Lailson Castanha
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terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

A ação como tema central do personalismo e sua correlação com outros temas.

O personalismo tem a ação como seu tema central, tem no engajamento a sua mola principal. Todos os demais temas abordados no personalismo como: pessoa humana, vocação, comunidade personalista, diálogo e até sua metafísica estão implexos na ação. Sobre isto Emmanuel Mounier afirma: “ O que não age não é”(1), e em outro momento reforça um pouco mais a idéia afirmando, que “uma teoria da ação não é pois o apêndice do personalismo, é seu capítulo central”(2).
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Aprofundando um pouco mais o problema da ação, Mounier busca na metafísica o fundamento do engajamento. Segundo ele, desde o seu nascedouro, o homem já carrega em si a responsabilidade do agir. Desde o princípio o homem deve agir. O Eterno o fez como um ser de escolhas. A responsabilidade de praticar uma escolha já o identifica como um ser de ação e de responsabilidade. Ademais, a civilização é uma comprovação da vocação do homem como ser de ação. Pois a civilização, como vida desenvolvida e aperfeiçoada pelo homem confirma que é a experiência que transforma e faz o homem. O homem é o que ele faz de sua vida. A pessoa não é um sujeito pronto, é na sua liberdade e escolhas que ela se desenvolve. Em ouras palavras é em sua ação e em seus engajamentos que ela se forma que passa a ser o que é.
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Emmanuel Mounier corrobora esta tese com a seguinte assertiva: “A civilização é, acima de tudo, uma resposta metafísica a um apelo metafísico, uma aventura da ordem do eterno, proposta a cada homem na solidão de sua escolha e da sua responsabilidade. (3).
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Definindo os termos que envolvem o homem em ação, “civilização, cultura e espiritual” Mounier explica: "Chamemos civilização, no sentido estrito, ao progresso coerente da adaptação biológica e social do homem e seu meio; cultura, ao alargamento da sua consciência, a vontade que adquire no exercício do espírito; espiritual, a descoberta da vida profunda de sua pessoa.” (4).
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Com essas palavras o pensador francês reafirma homem se faz e se molda no processo de suas escolhas e ações ,e, é nesse processo que ele se descobre como pessoa.
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Lailson Castanha
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(1)
MOUNIER
, Emmanuel, O personalismo. Lisboa: Livraria Moraes Editora, 1967.
(2) Ibdem.
(3)
MOUNIER
, Emmanuel. Manifesto ao serviço do personalismo. Lisboa: Livraria Moraes Editora, 1967.
(4)
Ibidem.

Crítica da Filosofia Personalista a educação na periferia de São Paulo.

Uma crítica filosófica personalista ao problema da falta de concentração, da agressividade, e da falta de interesse pelo ensino entre os alunos da rede pública de ensino em escolas da periferia de São Paulo, e da ação do professor diante desse quadro.
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Oferecido ao amigo de lutas, André Luiz O. do Carmo - uma pessoa que ainda acredita na educação e efetivamente se envolve por ela.
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Problema. Por que o aluno da periferia de São Paulo da rede pública de ensino se mostra desconcentrado e desinteressado com o aprendizado e age agressivamente no ambiente escolar? O que fazer para mudar este quadro?
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Tese. O ser humano além de sensitivo, um “ser” que se utiliza de capacidades conferidas pela natureza, é também um ser racional. Sendo mais preciso, o ser humano é um ser livre. Ele possui o atributo do livre arbítrio, atributo esse que o faz livre para entrar em confronto com os próprios ditames de sua natureza. Com esses atributos vivenciados de forma plena, ele passa da condição de mero indivíduo, para a condição de pessoa humana. É no uso de seus atributos que ele vivencia efetivamente a sua condição e vocação de “pessoa humana”, antes disso está apenas na condição de individuo, ou seja, na condição menor do que a sua própria vocação e potencialidade.
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Tendo essas peculiaridades como formadora de seu Estado Maior, o ser humano, só pode ser encontrado, só pode ser atingido, quando são levados em consideração esses tais atributos dantes referidos – sem esse tratamento, encontramos apenas o sujeito.
É a falta do alcance do aluno como pessoa humana que os faz sentir-se não participante, não responsável do, e pelo ambiente escolar. Não sendo tratado com pessoalidade, como pessoa, o aluno não se sente identificado com a escola.
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O aluno pode se distanciar de sua pessoalidade? Pode estar em situação desagradável em casa e estar bem na escola? Sendo aviltado pelos pais ou responsável, pode se sentir orgulhoso na escola? Podemos separar homem físico de homem espiritual?
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Essas indagações nos levam os dois caminhos. Ou admitimos a dualidade e ambiguidade na formação do ser humano, ou partimos para o pressuposto que interioridade e exterioridade são aspectos de uma só substância ou no caso do ser humano, de um só indivíduo.
Nosso estudo corrobora a tese de que interioridade e exterioridade são aspectos de uma só substância (de um só indivíduo).
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Distanciamo-nos da filosofia platônica no que se refere a distinção entre mundo das ideias e mundo da aparência, cremos que a aparência mostra-nos um dos aspectos de uma realidade mais ampla, neste sentido, cremos que assim como não podemos separar o homem essencial do homem aparente, porque a sua aparência de alguma forma revela traços de sua essência, não se pode separar um garoto com problemas em sua residência, em seus relacionamentos e na sociedade, do aluno na sala de aula. O aluno que fora da escola está envolvido num emaranhado de problemas, por conseguinte é um aluno problemático, porque ele, mesmo estudando continua sendo o que é, continua absorvido pelos problemas. O epíteto de "aluno" que lhe foi conferido, não lhe distancia efetivamente dos problemas existenciais que ele vivencia.
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Como professores, equivocadamente, tratamos o aluno coletivamente, ou seja, tratamos alunos e não pessoas. Indivíduos no meio de uma classe, indivíduos da classe dos estudantes. O problema é que a classe que o representa não destaca sua pessoa, apenas a sua identidade funcional, um alguém em um determinado meio.
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Cremos que toda pessoa deseja ser percebida em sua pessoalidade. Quando tratamos indivíduo que frequenta a sala de aula apenas como aluno, ignorando a sua pessoalidade, automaticamente ignoramos a sua pessoa.
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Quando tratamos o aluno como pessoa, ele será incitado a mostrar e destacar a sua pessoalidade. Através dessa abertura, o professor terá a oportunidade de entender o que se passa com o aluno, porque, a partir do momento em que ele destaca sua pessoalidade, passa a destacar o que é realmente, começa a desmascarar as personagens que ostenta na escola e na sala de aula. Começa a derrubar as máscaras que até então ele apresentava ao professor e com isso o professor passará a entender o que leva o seu aluno a agir de tal e tal forma.
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O problema dos alunos da rede pública de ensino, nas escolas da periferia de São Paulo, em sua maioria, tem raízes familiar ou social. Geralmente é num ambiente familiar ou social doentio que começa a crise de identidade do aluno, o desinteresse por valores éticos, pela educação e cultura. Se no lar ou na ambiência social-coletiva do aluno os valores éticos a educação e a cultura não são enfatizadas, dificilmente ele vai valorizar-las. Como na maioria dos lares e dos ambientes em que nossos alunos transitam esse problema é vivenciado, consequentemente os alunos são afetados por ele, destarte o problema que percebemos na escola é um reflexo do que acontece nos larese na sociedade em que ele está inserido. Com o professor ciente das deficiências estruturais do aluno, deverá tratá-lo de forma adequado a sua situação.
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Conclusão.
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Falta de concentração, agressividade, falta de interesse pelo conhecimento, são fenômenos que apontam para uma base irregular – a família desestruturada/sociedade desestruturada.
Nada acontece por acaso, como bem enfatizou Aristóteles tudo o que acontece tem uma relação de causalidade (causa e efeito). Problemas e crises que acontecem pessoas não fogem desta regra, portanto, os alunos também estão inclusos nesta regra.
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Sabendo disto, o professor deve atentar para este fato, para, quando se deparar um aluno problemático, tentar extrair dele um pouco de sua pessoalidade e com isso apurar o que provocou neste os desarranjos comportamentais.
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Conhecendo o aluno com mais propriedade, o professor poderá tratá-lo mais adequadamente, possibilitando uma possível reversão no seu quadro comportamental.
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Lailson Castanha
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A vocação no personalismo.



A Vocação é tema essencial quando abordamos o personalismo.

           Quando Emmanuel Mounier trata da peculiaridade e distinção da pessoa humana, com isto ele já está a admitir a existência de sua vocação. Para personalizar é preciso vivenciar uma vocação, a não vivencia da vocação, impede-nos de personalizar, ou seja, de tornar as coisas mais pessoais e humanizadas. Sem a vocação não vivenciamos nossa “pessoalidade”, pois a peculiaridade de nossa vocação é o que proporciona a possibilidade de nossa contribuição pessoal na comunidade. Um real engajamento só é possível quando aplicamos a nossa vocação a seu serviço, ao contrário, o engajamento não é legitimo, é impessoal.
A vivência da vocação é extremante importante para saúde da comunidade, pois, a exemplo da alegoria cristã do corpo de Cristo, em que cada membro tem a sua função, na comunidade saudável, segundo a filosofia personalista, cada pessoa tem a sua vocação, e por ela deve se engajar, deve se compromissar com a comunidade de pessoas.
A comunidade tem uma vocação comum, o diálogo, a comunicação, e é através dela que cada pessoa deverá  agir em prol do outro. É através dessa vocação comum,e do compromisso em vivenciá-la,  que uma comunidade deverá ser construída.
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“Se a vocação suprema da pessoa é divinizar-se divinizando o mundo, personalizar-se sobrenaturalmente personalizando o mundo, seu Pão cotidiano não é mais penar ou se divertir, ou acumular riquezas, mas, hora a hora, criar próximos ao redor de si.” (1) 
(Emmanuel Mounier)

Lailson Castanha

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(1) MOIX, Candide. O pensamento de Emmanuel Mounier. São Paulo, Paz e Terra: 1968.

Emmanuel Mounier, um filósofo da ação.

*À Prof. Ms. Tânia Sereno.

Temos conhecido ao longo da história vários pensadores que afirmaram e defenderam ideias sobre os mais variados campos da existência. Muitos tentam e tentaram resolver as questões sem ao menos se envolverem diretamente com elas, outros tem ou tiveram nas respostas dadas a firme expressão de sua própria vida. É neste segundo grupo que se enquadra o filósofo francês, Emmanuel Mounier.

Nascido em 01 de abril de 1905 na montanhosa Grenoble, Mounier, filho de uma família modesta, não perde gosto pelas coisas simples da vida, gosto este adquirido no típico convívio de uma família camponesa. No entanto, esta tranquilidade que a vida camponesa lhe oferecia, não lhe desviou a atenção para os desafios que a existência trazia, pois desde cedo desejava o contato com pessoas, contando como natural os problemas que este contato lhe traria. Podemos observar a sua ânsia na sua própria fala: “Encontrar pessoas era tudo o que eu esperava da vida, e eu sentia que isto queria dizer: encontrar sofrimento (...) parecia-me não poder imaginar a alegria senão através da partilha e do conhecimento.” (1)

É tão vívida em Mounier a disposição em lutar, que mesmo vivendo sérias dificuldades, passadas por diversas tragédias como a perda de uma vista e um ouvido ocasionados por dois acidentes na sua juventude (3), ruptura intelectual com um grupo de colaboradores de sua REVISTA ESPRIT que ocasionou no afastamento e saída desses membros, o falecimento do grande amigo Barthélemy que lhe deixou profundamente depressivo, a difícil condição financeira que por várias vezes lhe apertou, a fatídica enfermidade de Françoise, sua primeira filha, que aos sete meses uma encefalite a deixou totalmente inconsciente, seu aprisionamento, as várias censuras e ameaças de encerramento da revista, e os serviços no exército que no início lhe causou estranheza. Contudo isto ele afirma: “Tudo o que acontece para mim é sadio”(4). Com toda a provação que a vida lhe imprimiu, ele não perdeu o interesse pela vida e suas complexidades.

Esta atitude de não resignação diante dos acontecimentos é uma das características mais fortes do caráter de Mounier e que delineia a filosofia por ele defendida. O personalismo, sendo uma extensão da atitude deste filósofo, traça como ideal a ação de acolhimento e afrontamento. Isto significa a necessidade de encarar a realidade sem se demitir, colocar a pessoa não em fuga, mas diante dos fatos e neles envolvidos. Envolvidos, o filósofo, como toda a pessoa humana, devem-se engajar na empresa de humanizar a realidade que o cercam. Esta atitude defendida pelo filósofo foi intensamente vivida na ambiência de sua revista – que buscava através dos escritos, influenciar e motivar as pessoas a agir em prol da comunidade; sua seguinte afirmação ilustra bem este fato: “Tantos inocentes dilacerados, tantas inocências calçadas; esta criancinha, no dia a dia imolada, era talvez a nossa presença ao horror do tempo. Não podemos somente escrever livros. É preciso que a vida nos arranque periodicamente das artimanhas do pensamento.”(5)

Em Emmanuel Mounier, o pensamento nunca pode estar desligado da ação, o verdadeiro pensamento é aquele que está encarnado na pessoa que o pensa, se o mesmo está distante da ação, ou dela divorciado como os vários idealismos, este é apenas um delírio.

Vemos também o pensamento cristão encarnado neste filósofo. Já que para ele, absorvendo as idéias cristãs, o sofrimento era tido como uma vocação, Mounier chegava a vivenciar o paradoxo cristão de se aprazer com o infortúnio, por acreditar que eles estão envolvidos com a desconhecida graça de Deus.

Até o infortúnio de sua filha os fez pensar em outras vidas que vivem infortúnios semelhantes. Observando de outra forma, podemos entender que a dor motivada pela fatalidade de sua filha os fez, na mais pura maneira cristã, transcender, saindo do limite de sua existência individual.

Emmanuel Mounier é um filósofo da ação, porque fez com que o seu pensamento fosse vivenciado em suas manifestações existenciais. Acreditava no primado da “pessoa humana” e com base nesta convicção, lutou contra tudo que diminuísse a dignidade que esta pessoa tem por direito intrínseco. Pregava o acolhimento, acolhendo a realidade, se misturando e se envolvendo a ela e as pessoas que o cercavam e defendia o afrontamento, se engajando no projeto de defender a pessoa humana contra tudo que lhe avilte – mesmo que este afrontamento lhe causasse um desconforto, ou até mesmo a dor.

O afrontamento da pessoa diante das tradições e novidades que se afirmavam, teve em Mounier um profícuo resultado, tendo na REVISTA ESPRIT um dos seus máximos expoentes. Através deste veículo o primado da pessoa humana e a necessidade de ação foram defendidos arduamente, envolvendo pessoas que lutavam a favor das mesmas causas e chamando ao diálogo os que se mostravam contrários.

Em ação, Mounier lutou contra os vários “ismos” que colocam a pessoa integral em segundo plano, contra os fascismos, marxismos dogmáticos e a civilização burguesa capitalista-individualista, defendendo uma civilização personalista-comunitária que leva em conta a pessoa em sua complexidade colocando em questão toda a realidade que as envolvem. Sua vida foi vivida intensamente em meio às controvérsias e as questões que em se envolvera.

Envolvido nas fadigas proporcionadas pelas lutas e trabalhos, lutas estas sempre a favor do “primado da pessoa humana”, este homem de ação morreu vítima de uma parada cardíaca, e até mesmos em seus momentos finais, depois de duas crises que o forçou a um afastamento das atividades, volta ao trabalho. Não resistindo à terceira crise, às três horas da manhã, no dia 22 de março de 1950, morre em ação o homem do engajamento.

“Não seremos decididamente grandes enquanto a vida não nos colocar à prova de nos recusar, inapelavelmente, uma coisa a que aspiramos com toda a nossa ânsia.”(6)
( Emmanuel Mounier)

*Fui muito influenciado pela Prof. Ms, Tânia Sereno em suas aulas de sociologia na Universidade UNIFAI.
Sua atitude engajada fez-me perceber que carrega em seu íntimo a inspiração personalista defendida por Emmanuel Mounier e pelos intelectuais do círculo da Esprit.
Em suas dissertações defendeu intensamente uma sociologia da ação em detrimento as sociologias estritamente descritivas que não se misturam a carne social, e por conseguinte não buscam encontrar soluções, desvencilhando-se do compromisso de apresentar alternativas sociológicas, simplesmente se fechando na empresa de apontar dados e apresentar estatísticas.
Por isso, ao escrever um pouco da trajetória desse filosofo do engajamento – entendi que seria de boa medida oferecer esse simples texto a Prof. Tânia como gratidão a sua atitude, levando se em conta que gratidão por inspiração se paga com atitudes inspiradoras, coisa que a experiência de Emmanuel Mounier transmite com muita força.

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(1)MOIX, Candide. O pensamento de Emmanuel Mounier. Rio de janeiro: Paz e Terra, 1968.
(2
Ibidem
(3)SEVERINO
, Antonio Joaquim. A antropologia personalista de Emmanuel Mounier.São Paulo: Saraiva,1974.
(4)
MOIX
, Candide. O pensamento de Emmanuel Mounier. Rio de janeiro: Paz e Terra, 1968.
(5)
Ibidem
(6)Ibidem

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Conhecendo-se a si mesmo, para conhecer um pouco além de si.

Uma das mais mais fortes bases da filosofia, é o conhecimento que situa e identifica o homem. Filosoficamente tem-se como natural a atitude de, antes do homem procurar algo externo de si, primeiramente buscar conhecer-se a si mesmo.
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É impossível um conhecimento aprofundado sobre quaisquer realidades que nos cercam, sem antes entendermos que ainda não conhecemos essa realidades que nos instigam, ou até mesmo, que estamos observando algo, e que pensamos sobre o objeto de nosso interesse. Mesmo que rejeitássemos como real tudo o que nos cercam, temos antes que nos reconhecer como um alguém que rejeita. Esta atitude de rejeição, já é um princípio de identidade existencial – pois rejeitando tudo, não rejeito a minha existência que se afirma existente, pois na negação das coisas, destaco-me como alguém situado, e que, por estar situado, rejeito. Nisto podemos asseverar, que a procura do conhecimento, deve antes, começar pelo conhecimento de si próprio.
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Quando um behaviorista rejeita os processos mentais, se apegando apenas a métodos objetivos para o conhecimento, mesmo esta rejeição, foi fruto dos processos mentais colocados como inadequados para o conhecimento. A rejeição, jamais se daria de forma metódica sem o uso da introspecção. Um behaviorista, jamais rejeitaria a subjetividade sem antes conhecê-la em si mesmo, portanto, foi a partir deste conhecimento introspectivo que estes tais pesquisadores desconfiaram rejeitaram a sua eficácia.
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O homem jamais conhecerá, se antes não conhecer-se a si mesmo, seus limites, o contexto na qual esta inserido, e suas tendências.
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No ideário bíblico, encontramos a assertiva que o coração é enganoso (Jeremias 17.9). Nesta ideia, temos um princípio do conhecimento de nós mesmos, ou seja, sabendo que o nosso coração é enganoso, podemos perceber que nossa visão, intenções e emoções não são confiáveis, porque a nossa mente (para o judeu, coração) corrompe enganosamente os nossos demais sentidos, e consequentemente, as nossas ações e emoções e ideias, se tornam também enganosos.
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Saindo do âmbito das ideias para o âmbito sensível, também é necessário que o homem conheça os seus limites físicos, para que não seja traido por falsas impressões.
Quando o homem se percebe como um limitado no que se refere ao saber, ele não se satisfará com as informações de seus sentidos, buscará reforçar o seu entendimento em outras vias do conhecimento.
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Sócrates percebendo o limite do conhecimento humano, asseverou: “Só sei que nada sei”, Nicolau de Cusa, seguindo a mesma linha de raciocínio, considerou o homem mais elevado como “douto ignorante”, outrossim, um conhecedor de sua ignorância. Por perceber a sua ignorância, deseja sempre conhecer para sair dela, por perceber a sua ignorância, almeja conhecer o que sabe que ignora. Os dois pensadores citados, tiveram a preocupação de conhecer-se a si mesmos, e isto resultou na identificação da ignorância que os envolviam.
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Nicolau de Cusa, conhecendo-se a si mesmo, e consequentemente conhecendo a sua limitação em relação a totalidade do conhecimento, percebeu que tudo o que referia-se a Deus era inadequado, porque inadequado é o conhecimento humano. A reflexão profunda levou o filósofo de Cusa a conhecer-se a si mesmo, e isto o levou a perceber suas limitações e também fê-lo chegar a conclusão que sua linguagem, pelo limite existencial de que é composta, era inadequada para tratar qualquer coisa referente a Deus.
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Sempre que o homem deseja expandir o seu conhecimento, necessariamente se deparará com os seus limites – com isso conhecerá, um pouco mais de si mesmo.
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O homem não demissivo intelectualmente, quando for a busca de conhecimento, sempre será constrangido, a, antes de se envolver na empresa de buscar do conhecimento fora de si, conhecer-se a si mesmo.
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O “Pregador” ou o “Eclesiastes” figura repassada a Salomão afirma que “Melhor é ir à casa onde há luto do que ir a casa onde há banquete; porque naquela se vê o fim de todos os homens, e os vivos o aplicam ao seu coração.”(Eclesiastes 7.2).
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Fazendo um esforço para aproximar as ideias relembro a afirmação que Sócrates se apropriou: “Conheça-te a ti mesmo.” Na exortação do Pregador vemos que o homem necessita perceber e relembrar a sua finitude e impotência, para dessa reflexão repensar sobre a vida em sua totalidade, e em Sócrates, não menos exortativo, vemos o destaque na necessidade do homem em conhecer-se, coisa que naturalmente o levará a conhecer a sua pequenez, e lhe trará a consciência de sua inadequação diante do conhecimento.
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Uma filosofia verdadeira, sempre levará o homem a introspecção reflexiva.
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Lailson Castanha
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Ostentando o não-ser-pessoal.

O mundo ocidental capitalista, e as nações orientais regidas pelo mesmo modelo, vivem a efervescência da cultura da ostentação materialista. Esta ostentação vivenciada por pessoas orgulhosas, integrantes de uma sociedade capitalista massificada, tem a estranha atitude de apresentar de forma ostensiva o não-ser-pessoal, como se fosse parte real de seu ser-pessoal. Por exemplo, podemos ver entre os transeuntes de qualquer grande metrópole ostentando um caro óculos solar, como se fosse um atributo intrínseco de sua beleza pessoal.
Podemos também avistar um garoto de classe média ostentando um pit bull, como se a braveza daquele cão, fosse uma extensão da sua força.
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No ufanismo nacional, percebemos que um nacionalista ostenta a glória de sua pátria natal, como se esta, efetivamente ilustrasse a glória dos cidadãos da tal pátria. Em grandes eventos esportivos vemos a evidência desta realidade, no orgulho da torcida que vibra e ironiza cidadãos de outras pátrias, como se a glória de uma conquista esportiva nas quatro linhas de um gramado, ou de uma quadra, se estendesse para cada cidadão que torce com paixão pelo time que representa sua pátria. Representar, inclusive é uma tendência muito forte de nosso atual momento histórico.
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Muitas vezes eu fico a me perguntar. Será que quem usa ostensivamente um belo óculos solar, não percebe que a beleza deste não se estende a si, e que, racionalmente pensando, a beleza do óculos solar efetivamente só pode engrandecer os atributos do designer que o criou? Será que não percebe que saindo as ruas a ostentar a possível beleza que este acessório produz na ornamentação da sua face, na verdade, com isso, está negando os atributos físicos e pessoais de seu olhar natural, em outras palavras, será que não percebe que está apenas apresentando a ornamentação, ao invés de se apresentando, e que, apresentando uma beleza fora de si ela está negando-se a si mesma?
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Será que não percebe que uma máscara não apresenta a sua real imagem e, por ser assim, jamais deveria se orgulhar de forma ostensiva?
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As mesmas ponderações poderiam ser dadas a demais exemplos, pois, o “não eu”, não é o “eu”, por isso não ostentá-lo não seria uma atitude adequada.
Um homem que está com uma garota, sendo que esta foi atraída pelos seus bens capitais, não pode jamais se alegrar com a conquista desta, quando, ao invés de ser atraída pelo ser-pessoal que acompanha, foi atraída pelo não-ser-pessoal, ou seja, pela matéria de posse do ser pessoal que ela se aproximou.
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É lógico que não podemos ser contra a ornamentação e os bens, o que estou a destacar é o uso impróprio da materialidade colocada em maior estima de que a nossa pessoalidade e naturalidade, não a simples satisfação de possuir um belo produto.
A ostentação material quando substitui a valorização do ser natural, rebaixa a pessoa a condição de coisa artificial, onde o seu valor reside no que ostenta, no que tem ou se apropriou e não no que realmente “é”.
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O personalismo como corrente de pensamento, em qualquer instância e em qualquer lugar deve ter a natural responsabilidade de ressaltar e defender a primazia da essência sobre a opção da aparência, a primazia da pessoa sobre os valores e sobre qualquer status.
A ressalva personalista é importantíssima, porque, trocando as prioridades do ser – os valores também serão afetados, diminuindo a valorização da pessoa sobre si mesma, é também diminuída ou quase negada a identidade da pessoa pessoal, diminuindo o afeto pessoal, é também diminuído o afeto relacional.
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Se uma pessoa se sente realizada pelos bens materiais que possui, sendo eles um meio para a sua ostentação social, só terá interesse no outro se ver nele os mesmos valores materiais que possui ou que tenciona possuir, podendo visualizar o outro apenas como uma ponte para a empresa de ter o “não ser pessoal” que não possui.
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Devemos procurar ressaltar a importância dos valores naturais da pessoa, para que a matéria seja tratada como tal, e não continue a sua ascensão sobre o ser humano na sociedade capitalista hodierna.
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"Todo o progresso ameaça o homem de uma espécia de perigo interno...
A coisa...é o que acaba por possuir aquêle que a possui..." (Jean Lacroix)
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“O homem, pode viver a maneira de uma coisa. Mas como não é coisa, uma vida assim lhe parece uma demissão, e temos então do "divertissement" de Pascal, o "estágio estético" de Kierkegaaard, a "vida inautêntica" de Heiddeger, a "alienação" de Marx, à "má fé" de Sartre”. (Emmanuel Mounier) (2)
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Lailson Castanha.
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(1)LACROIX, Jean (direção). Os homens diante do fracasso. São Paulo: Loyola. 1970.
(2)MOIX, Candide. O pensamento de Emmanuel Mounier. São Paulo, Paz e Terra: 1968.
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Equívocos a respeito de Emmanuel Mounier e o personalismo.

Muitas idéias que são identificadas como ideias de Emmanuel Mounier ou como ideias do personalismo mouneriano, não podem ser identificadas como tais.
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O grande problema das indevidas atribuições dadas a Mounier, reside principalmente no epíteto, “personalismo”, que identifica o pensamento do pensador de Grenoble.
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Por personalismo, comumente, entende-se como: “atitude ou conduta de quem refere tudo a si próprio”, e, como personalista, vulgarmente entende-se como: “pessoal, individual ou egocêntrico"(1). Por essas abordagens advindas do senso comum, crê-se erroneamente ser o personalismo de Mounier, uma doutrina baseada na individualização do ser humano diante da realidade que o cerca, uma espécie de individualismo indiferente, fechado em conceitos subjetivos”.
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Também alguns autores qualificam erroneamente o engajamento personalista, na defesa do estado francês, contra uma cultura externa dominante – como um movimento de ação ultra direita.
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O personalismo também é indevidamente considerado uma filosofia antimarxista e antiexistencialista.
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Sobre o termo personalismo aplicado ao pensamento filosófico de Emmanuel Mounier, ele se distancia do termo usual. O personalismo de Mounier é uma filosofia do homem situado. Diferente do subjetivismo individualista, ou da ação egocêntrica da exaltação da personalidade individual diante de uma comunidade, o personalismo francês situa o homem diante de seu contexto existencial, incitando-lhe, por estar situado em um contexto específico, a se engajar em prol do meio em que se está inserido. Nessa descoberta, não pode haver mandonismo e culto a personalidade, porque, percebendo-se como uma pessoa em meio a outras pessoas, o cidadão personalista percebe que o seu compromisso no meio de pessoas com suas pessoalidades, é, justamente, garantir a dignidade a cada uma delas, coisa essa que constrange uma possível exaltação forçosa da sua personalidade ou de suas ideias.
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No que se refere a opinião de alguns comentaristas de ser o engajamento de Mounier coadunado a um movimento de ação ultra direita francês, é um pensamento inadequado, pois, o grande influxo do pensamento de Emmanuel Mounier, foi humanismo marxista e existencialista. Ser um nacionalista, aos modos de Mounier, não significa necessariamente ser um adepto de uma política ultra direita, pelo contrário, no contexto histórico em que se encontrava, lutava ideologicamente para salvar a França do domínio de uma nação efetivamente, ultradireitista, a nazista Alemanha. Em seu livro “manifesto serviço do personalismo”, vemos explicitamente sua rejeição aos fascismos, movimento caracterizado como ultra direitismo. Dissertando sobre dois modelos vigentes em sua época, de orientação facista, Mounier afirma:
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"Assim, de um lado como do outro, vemos a independência e a iniciativa da pessoa, ou negadas, ou constrangidas nas exigências de uma coletividade, ela própria ao serviço de um regime. Os facistas, não obstante, não saem de modo algum do plano individualista. Eles nasceram em democracias esgotadas, cujo proletariado, aliás, se encontrava muito pouco personalizado. Eles são a febre e o delírio resultante desse estado de coisas. Uma massa de homens desprotegidos, e sobretudo desamparados de si próprios, chegaram a esse ponto de desorientação em que só lhes restava um único desejo: A vontade, frenética à força de esgotamento, de se desembaraçarem da sua vontade, das suas responsabilidades, da sua consciência, depondo-a nas mãos de um Salvador que julgará em lugar deles, deliberará em lugar deles, agirá em lugar deles. Nem todos são, certamente, instrumentos passivos desse delírio, que, chicoteando o país, despertou energias, suscitou iniciativas, elevou o tom dos corações e a qualidade dos atos. Mas isso é apenas uma efervescência de vida. As opções derradeiras, as únicas que forjam o homem na liberadade, permanecem à mercê da coletividade. A pessoa é espoliada: já o era na desordem, é-o agora, por uma ordem imposta. Mudou-se de estilo, não de plano." (2)
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Sua afirmação em destaque, deixa bem clara sua desaprovação aos sistemas totalitaristas ultradireitista, facista e nazista
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Continuando no mesmo raciocínio, é também imprópria a assertiva que coloca o personalismo como uma filosofia antimarxista e antiexistencialista, porque, estes sistemas, longe de causarem asco em Mounier, despertaram em seu espírito o interesse em abordar o ser humano e suas demandas, de forma situada e personalizada.
Sobre o marxismo, apesar de Mounier entender que o personalismo o ultrapassa, ou seja, além de levar em conta sua chamada de atenção, percebe e problematiza questões desprezadas pelo marxismo, mesmo assim, Mounier o tinha em grande consideração. Percebe-se essa realidade na sua seguinte afirmação de Mounier citada por R. Cosso:

“É um ponto, escreve ele, em que realismo personalista muito se aproxima do método marxista, de seu esforço para livrar os problemas da história do à priori e para unir o conhecimento a ação”.(3) .

Podemos também perceber a aproximação de Mounier ao existencialismo, até mesmo na interpretão que faz a filosofia existencialista. Sobre o existencialismo, afirma Mounier:

“é uma reação da filosofia do homem contra os excessos da filosofia das idéias e da filosofia das coisas”
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Mesmo não se limitando aos ideários marxistas e existencialistas, Mounier, continuou tratando e abordando as preocupações contidas nestes sistemas dando um tratamento personalista. .

Apesar de levar as questões a caminhos por vezes diferentes dos que levavam os dois sistemas, a relação de Mounier com o marxismo e com o existencialismo era dialogal, longe de ser uma interrupção de diálogo.
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(1) Dicionário Aurélio - Século XXI. Nova Fronteira - versão 3.0.
(2) Mounier, Emmanuel. Manifetos ao serviço do personalismo.Lisboa: Livraria Moraes editora. 1967.
(3) DOMENACH, Jean Marie – LACROIX, Jean – GUISSARD, Lucien – CHAIGNE, Hervé – COUSSO, R – TAP, Pierre – NGANGO, Georges – PELISSIER, Lucien. Presença de Mounier. São Paulo: Duas Cidades, 1969.
(4) MOUNIER, Emmanuel. Introdução aos existencialismos. Lisboa: Moraes editora. 1963.
NETO, Henrique Nielsen. Filosofia Básica. São Paulo: Atual Editora Ltda, 1986. 3.ed.
SEVERINO, Antonio Joaquim. A antropologia personalista de Emmanuel Mounier. São Paulo: Saraiva, 1974.
MOUNIER, Emmanuel. O compromisso da fé. São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1971.
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Filosofia do diálogo.

Incitado pela ânsia existencialista de buscar respostas para a condição humana na existência, e, pela preocupação marxista de integrar o homem trabalhador, efetivamente com o seu meio, libertando-o da alienação, que o separa do fruto do seu trabalho, o personalismo já nasce dialogando com essas distintas linhas filosóficas de cunho humanista, que tem como preocupação destacar o problema do homem situado na existência.
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Percebendo e vivenciando a realidade da angústia existencial do homem europeu, aviltado pelos sistemas totalitaristas, fascista e nazista, que se alastrava pela Europa, e inclusive se embrenhava e dominava a França na década de 30, Emmanuel Mounier, se aproxima das preocupações do existencialismo. Ao mesmo tempo, em que se preocupa também, com a condição do homem em seu meio, e, sua relação com o trabalho, tema central do marxismo.
Partindo da universal angústia existencialista, o personalismo vai afunilando suas preocupações até localizar uma angustia específica, uma angústia definida com mais propriedade, ou seja, a ânsia do proletário em busca de justiça e dignidade. Percebe-se em Mounier um apego a ideia marxista de encontrar e destacar o proletário, ostracizado pelo gigantismo da propriedade privada e pelo poder da burguesia.
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Como percebemos, o personalismo nasceu com uma mutualidade de preocupações, mas ao mesmo tempo, ofereceu uma responta diferenciada as questões que provocaram sua ebulição.
O personalismo, não exite por si mesmo, não é como uma planta artificial, que não se transforma, presa numa estrutura que lhe foi posta, pelo contrário, como uma planta viva, está sujeito a histórica, que traz a tona, novas realidades e necessidades, que, consequentemente, exigem respostas novas.
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A proposta do personalismo é dialogar com sua época histórica, seu contexto geográfico e cultural, para que sua a resposta e suas propostas, venham carregadas de adequação. Ou seja, que suas respostas e propostas sejam pertinentes para a situação contextual das pessoas que estão localizadas em seus devidos contextos.
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Sobre essa voção dialogal do personalismo, Jean Lacroix (1900-1986) asseverou com muita propriedade:
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“ O diálogo entre o conhecer e o existir não tem fim, e a nossa vocação é ser sistema ativo, que se ultrapassa a si mesmo, não por deixar de ser, mas por se abrir cada veiz mais a este mais, a este mais além de todo o conhecimento e de toda a existência, pelo qual unicamente nos conhecemos e existimos.
Assim se patenteia as grandes linhas de um personalismo, que interpreta todas as aquisições do existencialismo, e, sobretudo do marxismo, mas, ultrapassando-os." (1)
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Lailson Castanha
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(1)LACROIX, Jean. Marxismo, existencialismo, personalismo. Porto: Apostolado da imprensa, 1964.
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O ser humano integral e seu aviltamento.

Em pleno século XXI, o ser humano vivencia uma realidade cada mais aviltante no que se refere a sua condição de ser integral.
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O ser humano em sua plenitude é constituído de substância física, de atributos que lhe são inerentes, de pessoalidade e espiritualidade. Ele ao mesmo tempo em que está situado fisicamente, é também um ser transcendente, ou seja, um ser espiritual. Outrossim, ele é um ser naturalmente espiritual, sua realidade encarnada está sempre ligada a sua natureza transcendente, de forma que sua essência é fundada nessa realidade: ser humano é um ser naturalmente espiritual e espiritualmente natural, sua natureza encarnada não é contraditória a sua natureza espiritual. Ademais, ser humano é um ser complexo.
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O grande problema que o ser humano enfrenta no presente século, é que sua complexidade, ligada diretamente a sua constituição integral, não é levada em conta no atual sistema social, sistema esse arregimentado pela batuta do poder burguês, que tem como sinfonias prediletas à benesse do lucro e a famigerada luta pela conquista do capital.
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Tendo como plenitude a sua integralidade, o ser humano só se sentirá completo quando, em sua ambiência, todos os aspectos de sua existência forem levados em conta. Só quando os conterrâneos de uma sociedade se conscientizarem e vivenciarem as complexidades de sua integralidade, proporcionarão um ambiente mais propício ao natural convívio humano. De outra forma, bloqueando os demais aspectos da constituição humana, a sociedade gerará homens frustrados e incapacitados de enfrentarem os desafios que a vida imprime, justamente por já se sentirem derrotados em sua própria ambiência social, pela falta de condição de viver a vida integralmente.
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Quando uma sociedade é dirigida por sistemas políticos-econômicos impessoais, que não levam em conta a história e cultura de um povo ela, além de nunca beneficiar esse povo, causará estragos inumeráveis a cada integrante pessoal dessa sociedade, mesmo que o próprio sujeito não esteja cônscio de sua situação inadequada.
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Quando o governo não se envolve na história da sociedade em que está inserido, e também não leva em conta a sua cultura, que é a própria identidade social de um povo, ele faz com que os mesmos se sintam deslocados e desapegados com o ambiente em que vivem – tornando-os demissivos em sua vocação social e comunitária.
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Esse estrago está ocorrendo com advento do neoliberalismo, que movido pela cultura mercadológica do lucro inconsequente, tem arrasado sociedades através do desrespeito a suas culturas e tradições, trazendo de fora todo tipo de novidades, seja material ou cultural – que será através do consumo, transformado em capital, fomentando no homem local a ânsia pelo novo, pelo externo, e através disso se transformando cada dia mais, num ser impessoal, que por voltar-se apenas as novidades materialistas, deixa de nutrir sua interioridade, sua espiritualidade, e seus atributos mais nobres.
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“O único personalismo possível é aquele que tiver em conta a totalidade do ser real.” (1).
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(1)LACROIX, Jean. Marxismo, Existencialismo, Personalismo. Porto: Livraria apostolado da imprensa, 1964.
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Vocação do filósofo, e o papel da filosofia hodierna.

Qual é o papel da filosofia em nossos dias?
Qual o papel do filósofo contemporâneo?
Que contribuição, poderia oferecer o filósofo, a nossa sociedade?
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As pessoas da contemporaniedade estão assistindo em todo mundo a cultura do egocentrismo dominar quase todas as instituições humanas. Podemos afirmar, que estamos vivendo a época da individualidade,aliás, o próprio advento do egocentrismo institucional, é fruto dessa ambiência individualista.
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Todos nós queremos ser servidos e ansiamos que nossos desejos sejam satisfeitos. Queremos melhores salários, melhor atendimento, alimentação, melhores transportes, ou melhor, o nosso próprio meio de transporte. Queremos mais segurança, andar pelas ruas sem medo de assalto ou de sermos abordados por pessoas indesejadas; enfim queremos vivenciar a satisfação de nossos anseios e desejos, para depois desejarmos outras coisas ainda não satisfeitas. Queremos, queremos, queremos...
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Se Descartes afirmou que seu pensar o localizava existencialmente, nossos próximos hodiernos, percebem sua existência em seu querer, portanto a assertiva em relação a certeza da existencia pessoal é: Quero, logo existo!
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Em nossos dias, sendo o querer efêmero, a motivação existencial das pessoas, criou-se uma grande dificuldade por parte dos pensadores e dos divulgadores de cultura, despertar o interesse nas pessoas para as coisas não efêmeras; existe no círculo social moderno, em relação a coisas ligadas à cultura, a filosofia , e ao saber não utilitário, uma grande rejeição que vem junto com a pergunta: - Para que me serve isso?
Essa indagação reflete a falta de percepção das pessoas em relação a sua própria condição existencial, o homem e a mulher de hoje, não se percebe como um ser integral e que sua integralidade funda-se na realidade corpo alma e espírito, ou como preferem os materialistas – matéria e mente. Ademais, se nos alimentamos existencialmente não só de coisas materias, necessitamos existencialmente não só de coisas práticas que satisfaçam apenas o nosso querer utilitário e efêmero, mesmo sendo eles importantes, – precisamos descobrir, ou redescobrir nossas necessidades intelectuais e espirituais, porque, não dando vazão a elas estaremos negando a nossa constituição integral de seres humanos, que em sua forma simples é: um ser corpóreo, sensitivo e racional – portanto um ser substancial que precisa de outras substancias materias para sobreviver, um ser que sente, e como tal, quer alguma coisa palpável, mas também, e um ser que pensa e como tal, raciocina, divaga, mentaliza.
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Conhecendo toda essa problemática existencial vivenciada pelas pessoas de nossos dias, é papel do filósofo contemporâneo, se envolver diretamente nessas questões, abordar filosóficamente temas relacionados a constituição da pessoa humana em sua integralidade e destacar a necessidade de cada ser de vivenciar integralmente a sua essência.
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A filosofia como método de pensamento, desde Sócrates já relembrava ao homem da necessidade de conhecer-se a sí próprio, e hoje, jamais, quem se utiliza dessa ferramento do saber, pode deixar de asseverar essa exortação.
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O filósofo pode, através da filosofia, fazer o homem retornar a sí mesmo, e, com isso perceber as suas necessidades não-efêmeras, essenciais. Essa possibilidade de acordar a pessoa de seu sono intelectual e espiritual, é uma das vocações em que o filósofo deve se engajar, adrede, deve buscar entender a problemática que levou o homem moderno a tal situação. Essa mesma vocação que tem o filósofo de fazer a pessoa retornar a si, consiste, ela mesma, na sua contribuição histórica e social. É importante ressaltar que o engajamento do filósofo nessa empresa redundará posteriormente na própria reforma social, já que fazendo o homem voltar para suas necessidades trancendentais, direcionará o próprio homem na procura de valores e riquezas que extrapolem o efêmero universo materialista; essa ação filosófica de mostrar ao homem uma ontologia do ser, despertará na pessoa o desejo de satisfazer suas necessidades naturais que foram reprimidas pela exegerada ênfase nas necessidades efêmeras da cultura materialista, necessidades essas que apenas satisfazem uma parte da sua constituição pessoal, em detrimento a outros, fundamentais aspectos do seu ser.
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“A civilização é, acima de tudo, uma resposta metafísica a um apelo metafísico, uma aventura da ordem do eterno, propondo a cada homem na solidão de sua escolha e da sua responsabilidade.” Emmanuel Mounier (1)
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“Designamos como materialista uma filosofia que, mesmo insistindo justamente sobre o humanismo do trabalho e da função fabricadora, considera como ilusória outras dimensões não menos essenciais do homem, principalmente a interioridade e a transcendência.” (Emmanuel Mounier)
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Lailson Castanha
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MOUNIER, Emmanuel. Manifesto ao serviço do personalismo. Lisboa: Livraria Moraes editora, 1967.
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O ser situado em-si, aqui-agora .

Quase toda a linha do pensamento filosófico moderno, tem como fundamento a representação do negativo. Depois de Kierkegaard, que se percebe angustiado, e, intuitivamente aponta o ser-humano como tal, um ser angustiado, os filósofos que o sucederam, só conseguem situar o homem em seu aspecto negativo, tanto que no existencialismo e na fenomenologia, duas grandes linhas modernas do pensamento, não se percebe o ser a partir deles mesmos, mas apenas a partir do que lhe falta ou do que lhe incomoda. Em Nieztsche, com o seu niilismo, o homem se situa quando rejeita e nega qualquer vontade não-sua, com este ato, se reafirmando na rejeição das coisas já postas, ele será um ser efetivo. Heidegger acreditou que o homem se situa na angústia, e como tal, quando se percebe, percebe-se como um ser angustiado. Sartre situa o homem, na falta de sentido existencial; já para Camus é o absurdo que rege a humanidade, e quando o homem o rejeita, com isso está negando sua própria condição humana. Até o pragmatismo, enfatiza o homem a partir do não ser, no caso, a partir de seus desejos, não em sua realidade à priori. Contudo, podemos perguntar: a razão do ser está apenas no negativo, na negação e rejeição, na angústia, na falta de sentido e no anseio? Será realmente que só nessas questões conseguimos situar o homem na existência?
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Creio que numa analise positiva do ser, podemos encontrar muito mais substância para esse ser, do que tratando as questões do não ser. Pode-se afirmar que a realidade é, portanto teremos conhecimentos mais apropriados do ser, se buscarmos sua identidade naquilo que ele é; ademais, se ele é, com certeza é um ser localizável na existência, não apenas na impossibilidade.
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Pensando positivamente a questão da existência, Mounier se preocupou em situar o homem. Fugindo da correnteza do pensamento negativo do ser, preocupou-se então, não em colocar o homem na encruzilhada de suas impossibilidades, de sua angustia, mas, pelo contrário, através da realidade pessoal do ser, ele demonstrou a capacidade do ser se situar a partir do que ele é, ou seja, de sua pessoalidade.
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“E não sou um leve e soberano cogito no céu das idéias, mas este ser pesado cujo o peso só será dado por uma expressão pesada; eu sou um eu-aqui-agora; seria preciso sobrecarregar ainda mais e dizer um eu-aqui-agora-assim-entre estes homens com este passado. ( Emmanuel Mounier)
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Lailson Castanha
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Personalismo comunitário.

Envolvimento comunitário significa envolvimento de pessoas com pessoas, conhecer uma comunidade é o mesmo que conhecer pessoas. Também é correto afirmar que só conhecemos os problemas de uma comunidade se conhecermos os problemas das pessoas que integram a comunidade, ademais, nunca podemos tratar a comunidade como um organismo em-si, independente, mas, pelo contrário, devemos tratá-la como um organismo abarcador de pessoas, essas, por sua vez, a essência da comunidade.
Se enxergarmos na comunidade um ser completo e definível em si, estamos ignorando o princípio fenomenológico do ser, que é uma coisa formada de coisas ou como expressou Heidegger com mais qualidade, “ser é sempre ser de um ente”, portanto, não podemos encerrar uma abordagem comunitária apenas com um enfoque macro-comunitário numa tomada panorâmica, porque comunidade é sempre comunidade de pessoas, e como tal, para conhecer a realidade comunitária, faz-se necessário conhecer a realidade das pessoas, portanto o enfoque deverá ser tomado do micro, da pessoa para a comunidade, nunca o contrário, pois não é a comunidade que forma as pessoas, mas são as pessoas que formam a comunidade, pessoas essas com suas histórias, suas demandas e necessidades peculiares, necessidades essas que só podem ser percebidas a partir de uma análise intimista, analise que alcança a pessoa, não de uma análise distante, a partir do coletivo.
.Quando nos distanciamos das pessoas, nos distanciamos de nós mesmos e nessa atitude, todas as nossas necessidades deixam de ser tratadas, porque, deslocados de nosso mundo pessoal comunitário onde as reais necessidades pessoais são percebidas, porque nosso ser real está ai encarnado, somos arrastados para o mundo impessoal, do ser desencarnado, do não ser, onde nossa essência é ignorada e totalmente ostracizada. Por sair da vivência do mundo comunitário e encarnado não percebemos as nossas necessidades, porque no mundo do não ser, desencarnado, a necessidade do ser jamais será tratada pelo simples fato de não ser percebida. Nesse mundo, nosso verdadeiro ser fica perdido, oculto pelo não ser impessoal. Nessa ambiência, até mesmo o verdadeiro Deus, o Deus pessoal que se relaciona, é preterido por deuses vazios, deuses do não-eu, da descaracterização pessoal, das exigências não vitais ao ser-pessoal, deuses que quando idolatrados, impedem a manifestação efetiva do ser pessoal, manifestação essa que já seria a própria derrubada dos deuses da impessoalidade já citados.
.Estando fora da comunidade de pessoas, o homem, transformado pela força do condicionamento em sujeito impessoal, além de não perceber suas reais necessidades, não percebe também as exigências da vida comunitária e, consequentemente, vai fugindo de qualquer forma do engajamento pró-comunidade, justamente por não se sentir nem participante e muito menos responsável das coisas que o cercam.
.Participando de uma festa de aniversário, pude observar a realidade da pessoa personalista comunitária, e como tal, pessoa que existencialmente se encontra e se percebe quando se perde na exigência de outras pessoas, na exigência comunitária.
Afadigado pelas tarefas diárias, achei que estar na referida festa, considerando o meu estado, seria-me pesaroso, na minha mente, o melhor para mim, pelo menos naquele momento seria o descanso. Não que me faltou vontade de ir a festa, mas estava ausente em mim com muito destaque, disposição física e mental, devido a labuta muito puxada. Mas por considerar muito a aniversariante, uma grande amiga, eu fui. Já nos primeiros preparos para a festa, no encontro com outro amigo que para lá ia, juntamente com a minha família, minha disposição sofreu uma pequena transformação, que se completou quando lá cheguei e avistei meus grandes amigos na qual se incluía a aniversariante, que por sinal estava muito feliz com a presença de seus, igualmente, amigos.
.A gradual transformação que sofri, foi em mim encarnada pela minha ansiedade em cumprimentar os amigos logo na chegada, e foi evoluindo no prazer em escutá-los e também em trocar ideias com eles, em ver a alegria da aniversariante, em falar coisas sérias e assuntos descompromissados, em sorrir com eles, enfim na alegria de estar ali, na festa que outrora eu não aspirava e por me perder na exigência comunitária, pois minha amiga estava aniversariando, e lá também estariam os meus amigos, eu deveria estar com eles; esta foi para mim uma exigência comunitária, que me fez perder nos meus amigos, mas consequentemente me fez, achar-me a mim mesmo, porque, a alegria em mim, motivada pela presença de meus amigos, indicou que eu precisava deles, que eles são muito importantes para a construção da minha história, que com eles minha vida é mais rica, sendo assim, me perdendo nos outros, eu me encontrei, perdendo-me no outro eu me enriqueci, ou, a minha vida se faz mais rica quando envolvida com a vida deles.
.Depois desses momentos, estava bem clara para mim a noção de personalismo comunitário definido na assertiva de Mounier: “a pessoa só se encontra quando se perde”. Só quando saímos do nosso mundinho das lógicas dos “primeiro os meus problemas”, “cada um na sua”, “cada um com os seus problemas”, perceberemos, no envolvimento personalista, pessoal e comunitário, que nossos problemas se apequenarão; também, a maior parte das necessidades vitais do nosso ser serão desveladas no contato e envolvimento com outras pessoas, contato esse que nos tirará do vazio do mundo impessoal nos dando a satisfação da sensação de localização existencial, tirando a angústia da falta de sentido existencial que dantes vivenciávamos.


­.“Todas as experiências conduzem ao mesmo ponto: impossível atingir a comunidade esquivando-se da pessoa, impossível fundar a comunidade sobre algo que não sobre pessoas solidamente constituídas". (Emmanuel Mounier)


.Lailson Castanha
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MOUNIER, Emmanuel. O personalismo. 3. ed. Santos: Martins Fontes, 1974.

A pessoa e a ação, o tema central do personalismo.

O tema pessoa humana sempre foi um dos temas centrais do personalismo de O tema pessoa humana sempre foi um dos temas centrais do personalismo de Mounier. Mais é importante ressaltar que o termo pessoa humana no personalismo é um termo muito mais complexo do quando usado na forma coloquial. Pessoa humana no personalismo é a pessoa em sua pessoalidade, em seu contexto, com uma vocação. Entendendo que pessoa humana é alguém com um contexto e nesse contexto é alguém com uma vocação, percebemos então que o termo pessoa humana está intimamente ligado no personalismo com o termo ação. Em sua ambiência, a pessoa é alguém com uma vocação, e necessariamente essa vocação está ligada a um compromisso, ao mesmo tempo, transcendente e existencial, que sendo levado em consideração, direciona a pessoa ao engajamento. Portanto, como tema central no personalismo de Mounier, podemos destacar pessoa e ação, pessoa em ação ou a pessoa e o engajamento, ou ação pessoal.
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Mounier afirma que, "o que não age não é", portanto ser humano sem ação pessoal, é um ser demissivo, é um ser que não não vive a plenitude de ser-humano.

Comentando sobre a importância que o personalismo dá a ação pessoal, Mounier afirma: ”Uma teoria da ação não é pois um apêndice ao personalismo, é seu capítulo central”. O personalismo, já nasce como resposta ao “EU” existencialista, pois a Pessoa-Humana personalista, que encontra na ação e no engajamento um sentido existencial, serve como saída ao “Eu” do existencialismo, angustiada pela falta de sentido existencial, que tem como resposta ao sentido da vida, a angustiosa afirmação: Tudo é absurdo.
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O Personalismo tem como centro, a preocupação em ressaltar a ação e a pessoa-humana engajada nessa ação. Está engajada porque vivendo integralmente como pessoa, naturalmente estará se movendo em torno das coisas que essencialmente o cerca, daí o seu engajamento, e o seu encontro.
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"Porque não basta compreender, é preciso fazer. O nosso fim, o fim último, não é desenvolver em nós ou em torno de nós o máximo de consciência, o máximo de sinceridade, mas assumir o máximo de responsabilidade e transformar o máximo de realidade, à luz das verdades que tivermos reconhecido".(3)
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(3) MOUNIER, Emmanuel. Manifesto ao serviço do personalismo. Lisboa: Livraria Moraes editora, 1967.
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Cristianismo desencarnado.

O que se conhece por cristianismo hoje, quase nada tem haver com a fé em Cristo e no seu sacrifício na Cruz como fator preponderante para nossa reconciliação e recomeço, nada tem a ver com amor e justiça. Hoje cristianismo em suas diversas vertentes é uma religião desencarnada de sua matéria principal. Vemos nas igrejas apenas a ideia de cristianismo, mas não conseguimos enxergar essa ideia encarnada.
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A essência Cristã é Cristo, ele é visto no meio da cristandade pelos seus valores, e quando esses valores são adotados e exercitados de forma real, quando isso acontece, quando a matéria principal, que é a doutrina de Cristo está encarnada, não mais haverá representação, mas através da vivência desses valores haverá a demonstração de vida cristã, e todos os que estão a ver, verão um cristianismo autêntico de uma fé encarnada, demonstrada nas ações e nos valores da cristandade. Cristo, através do cristianismo encarnado será entendido, por que seus valores serão expostos na vivência de cada um que tem no cristianismo sua identidade existencial. Mas o que vemos hoje nos círculos cristãos, não é a mensagem cristã encarnada, em cada vertente vemos uma encarnação ou uma ideia dominante, tomando lugar da mensagem evangélica, incorporada nas manifestações e preocupações de cada seguimento cristão representado. Em alguns seguimentos, egoísmo incorporado numa teologia de um deus prestador de serviços, é que domina a liturgia. Em outros vemos a teologia, apesar de não intrínseca, não essencial, dominando a preocupação dos clérigos dessa representação cristã, o domínio é tão forte que muitas vezes o excesso de zelo pela teologia que encarnam, os fazem esquecer de enfatizar o amor, a mais importante manifestação do cristianismo. É o dogma teológico ganhando mais corpo do que os preceitos de Cristo é a ostentação teológica em maior apreço do que o cristianismo encarnado. E por outro lado também é real na maioria das comunidades cristãs, a despreocupação com o ensino cristão é o cristianismo sem o uso dos dons para o serviço do Reino de Deus, sem o ensino sem a exortação, é o cristianismo sem a responsabilidade com as vidas. É o cristianismo sem discípulos, desencarnado. A situação é tão horrenda, que lideres que defendem uma linha teológica expõe uma crise aberta recentemente na comunidade do outro, que defende um outro pensamento. A vitória da teologia para o primeiro grupo foi mais importante do que guardar a unidade do Espírito no vínculo da paz. A teologia encarnou-se, colocando a unidade cristã apenas como uma mensagem. Corpo mesmo, vivência, apenas ao dogma teológico.
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Só com o cristianismo encarnado seremos diligentes em guardar a unidade do Espírito no vínculo da paz, porque o amor cristão, o amor de Cristo encarnado, tem poder de nos unir mesmo em nossas diferenças filosóficas e teóricas. É necessário que os cristãos busquem com toda alma viver esse amor, para que Cristo e não a teologia seja glorificada.
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Apesar de naturalmente nos identificarmos com um sistema teológico ou filosófico, por termos uma pessoalidade e nela uma tendência que nos diferencia do raciocínio do outro ser, temos em comum a uniformidade das principais doutrinas do cristianismo e nelas devemos nos apegar, para não nos distanciarmos do amor e da convivência harmoniosa com os domésticos na fé.
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Patrística, agostianismo, tomismo, calvinismo, arminianismo, teologia relacional, apesar de serem importantes como sistemas de identidade filosófica-teológica, nada são se comparado com a importância da encarnação da mensagem de Cristo na vida dos cristão.
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"Conhecemos o amor nisto: que ele deu a sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos irmãos". ( 1Jo.3 16.)
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(1)_"Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados, (2)_com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor (3)_esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz; (4)_há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação". (Ef. 4.1-4)
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Lailson Castanha
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Gravura: H. Bosch (1450 - 1516)
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Se situando através da vocação e do engajamento.

Olhe ao seu redor, a sua frente, a seu lado, observe o dia de hoje com o seu devir, sabendo que no exato momento, nada do que foi, em sua integralidade é; algo se foi, algo se acrescentou em suma, nada está inerte, tudo se transforma. Veja o seu ambiente, olhe as pessoas que o cerca, fazendo ou não fazendo parte de sua vida.
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Cada uma das pessoas está envolvida com alguma coisa, cada qual com os seus afazeres, com seus compromissos, suas dúvidas; umas buscam inquietamente acalentar suas indagações buscando respostas das mais variadas formas e nos mais variados lugares, outras se acomodam, como que cochilando no carro que atolou na lama ou dormindo com o estômago vazio, sem buscar a satisfação de suas necessidades. Mas cada um está, pelo devir sendo envolvidas, algumas se situando em meio a intensa movimentação da vida, outras cada vez mais perdidas, outras cada vez mais nulas. Ninguém está absolutamente inerte!
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Os perdidos são os que se movimentam dominados por seu desespero existencial, e nele, pela intensa carga de angústia causada pela condição de perdido, se perdem ainda mais, no cinismo e no niilismo da impropriedade existencial, do não existe saída, nada tem sentido, ou, tudo é um absurdo. Eles, mesmos perdidos continuam a caminhar a esmo, indo de um lado a outro e exclamando, na loucura do desespero, suas afirmações pessimistas e desestimulantes. Muitas vezes, mesmo na condição de impropriedade, se envolve em causas para sentir algum alento na zona estranha existencial onde se encontram.

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Os nulos, ah, esses são os que vegetam, são levados pela sua inércia intelectual, ou pela falta da noção da intrínseca dignidade pessoal, são levados de um lado para o outro, inteiramente a disposição do tempo e do espaço e da tirania do sistema impessoal que os governa.

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No processo do devir, águas do rio de Heráclito não são apenas fluência elas fluem sim, mas no processo de sua passagem, integrada com a totalidade da natureza em que está inserida, ela transforma. Não só o rio não é mais o mesmo, mas todo o contexto não é mais o mesmo. Essas águas são processadas, mas também processam, elas fluem, mas também provocam fluência. Observe as margens do rio, veja bem, ela não é mais a mesma, as águas passageiras o transformaram. Consequentemente, ele transformará a paisagem ao seu redor, com cada terra deslizada, árvore derrubada, porção de capim que se desenramam.

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A semelhança desse rio, que flui, mas que transforma o seu caminho, existem pessoas, que conhecendo sua vocação existencial, estão engajadas na tarefa de transformar. Essas pessoas não são como lamas existenciais, apodrecidas devido à falta de movimentação, pelo contrário, pela clareza de sua vocação, passam e aplainam o caminho dos que aqui se encontram e dos estão por vir. Não estão perdidas, estão situadas em seus engajamentos, sabem que estão de passagem tendo uma tarefa a cumprir, e, por tal coisa não se desesperam, porque para cumprir seu compromisso tem como ferramenta sua vocação.

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Para entender o processo existencial, precisamos primeiramente, vivenciar os conselhos do Oráculo de Delfos reproduzidos por Sócrates: “Conheça-te a ti mesmo”.
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Precisamos, conhecer nossa vocação, para com ela nos engajarmos sem correr o risco de nos perdermos na angústia existencialista de não saber o que fazer diante das complexidades e dos desafios que a vida nos impõem. Creio que o grande problema dos pensadores existencialistas foi o fato de não levar efetivamente em conta suas vocações. A vocação que temos, já é o início de sentido existencial. Se eu existo, existo para alguém, ou existo para algo. Se não descubro ontologicamente a lógica de minha existência, sei pelo menos que minha existência faz sentido para outros, portanto nos outros eu posso me encontrar e encontrar sentido, ou nos outros, minha existência encontra algum sentido. Para os outros eu exerço minha vocação, esse meu engajamento, faz com que minha vida para os outros e nos outros, não seja nula.
Devo buscar a resposta para a pergunta ontológica, onde reside essa alguma coisa para a qual eu existo ou para quem eu existo? Sim, mas também devemos levar em consideração, que se engajando através do uso de nossas vocações, esse engajamento trará, através das pessoas beneficiadas com o nosso despojamento, uma certa noção de fundamento espacial-temporal, uma lógica existencial.
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Os existencialistas, não observando a lógica que a vocação transmite para a existência, não encontraram sentido para a sua existência pessoal, mas se fizessem o contrário, ou seja, observassem o seu papel na existência encarnada, e o serviço que prestaram para seus semelhantes, encontrariam, nas pessoas, na interação, no serviço, enfim, no engajamento vocacional a lógica existencial e o sentido de suas vidas.
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Lailson Castanha
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Intentamos propagar o personalismo, bem como suas principais ideias e seus principais pensadores, com a finalidade de incitar o visitante desse espaço a ponderar de forma efetiva sobre os assuntos aqui destacados e se aprofundar na pesquisa sobre essa inspiração filosófica, tão bem encarnada nas obras e nos atos do filósofo francês, Emmanuel Mounier.

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